19.2.14

Meu Brasil brasileiro

Eu gosto do Brasil. Digo, desse país em que nasci e vivo. Gosto, não amo. Amar é demais e, acredite, esse país não merece amor. Gostar já está de bom tamanho. Talvez seja só eu que tento ao máximo não banalizar a palavra "amor". Eu só digo que amo algo quando eu REALMENTE amo esse algo. Não saio por aí cuspindo amor aos cantos. Talvez por isso não seja um patriota. Sempre achei o patriotismo uma grande besteira. Amar um pedaço de terra só porque você nasceu nela simplesmente não faz sentido pra mim. Na verdade o Brasil nunca me deu motivos o suficiente para amá-lo.

 O Brasil é o país do futebol, não gosto de futebol. O Brasil é o país do carnaval, desprezo o carnaval. Quer saber do que o Brasil não é país? Do cinema, por exemplo. Eu amo o cinema, o meu país nem tanto. Amo tanto o cinema que queria seguir carreira de cineasta, e ganhar dinheiro escrevendo roteiros e dirigindo filmes. Mas o Sr. Brasil não coopera. Não existe incentivo o bastante nem para o cinema nem para a arte em geral por aqui. Assim o meu sonho profissional é dominado pelo desânimo e desistência. Um ponto negativo para o Brasil.

 Achou isso pessoal demais? Ok, vamos cavar mais fundo: Obrigação! Se há uma coisa que um país livre e democrático nunca deveria fazer é obrigar o cidadão a fazer algo que ele não quer. Em tempos de eleições, vemos comerciais na TV tentando nos convencer que o voto não é uma obrigação, e sim um direito. Acontece que o nosso lindo país é tão, mas tão democrático, que se caso eu resolver não sair de casa para votar, sou multado! Se é mesmo um direito, eu posso escolher não segui-lo e não sofrer danos por isso. Por isso o voto eleitoral se torna uma obrigação, e obrigação e democracia não se relacionam entre si. Mais um ponto negativo para essa terra tão querida.

 Ainda achou pouco para justificar a falta de amor que tenho pela minha pátria? Então vamos para o clichê: Não amo o Brasil por ele ser defeituoso. Uma nação com educação deficiente, saúde precária, segurança despreparada e um governo apodrecido pela corrupção. E a melhor parte é que o povo parece não ligar. Quer dizer, sambar em cima de carros alegóricos, ao lado de mulatas semi nuas, gritando tindo lê lê na maior alegria do mundo, não parece ajudar muito!

 Meus pais me ensinaram que antes da sobremesa, devo comer arroz e feijão primeiro. O Brasil é uma mulher de 300kg, que sempre deixa o prato de arroz e feijão de lado e avança logo para a sobremesa, e não gosta de ser chamada de gorda. Das caríssimas festas carnavalescas fora de contexto, às tentativas desesperadas do nosso governo de mostrar ao mundo que estamos preparados para sediar um enorme evento futebolístico mesmo não estando, que cada vez mais sinto vergonha de ser brasileiro.

 Viva o nosso país tropical!