4.5.18

#3 - sobre a ansiedade de sábado

Estou em rota de colisão com o sábado de novo. É sempre isso. Uma queda em alta velocidade, implacável e temerosa em direção ao sábado. A ansiedade crescente, o frio na barriga. Eu poderia usar o tempo da queda para me preparar, ensaiar, planejar. Mas uso o tempo que tenho de me preparar, ensaiar, planejar, para fazer...nada. O nó na garganta aperta. É sempre isso. Um ciclo vicioso de autodestruição, retroalimentação, incansável. Queria sentar na frente da brisa de um mar. No meio dos ventos frescos que rebatem em árvores de um campo. Sentar em algum conforto e conversar honestamente, despretenciosamente. Com a minha cabeça aqui e não no futuro a cada milisegundo. Não a minutos a frente, não a dias a frente. Só aqui e agora, no constante agora. Em algum momento do tempo eu me perdi, e nunca mais fui o mesmo. O tempo vai inundando você, até você desaparecer soterrado pelos disfarces que você criou para conviver no meio de gente. Você vai, cada vez mais, se enterrando mais fundo no meio de fantasias até não se encontrar mais. Você se perde para sempre. Para sempre perdido. Sua montanha de disfarces agora é sua realidade. O seu eu original, apenas um intervalo dessa realidade. Um intervalo que custa caro e vai te fodendo aos poucos. Silenciosamente.

É sempre isso. Mas nem sempre foi. A semana é a minha queda. O sábado o centro gravitacional. O domingo é o chão.