6.2.18

A mão direita do viajante escorregou quando faltava mais um metro de escalada na grande montanha cinzenta. Por sorte sua mão esquerda o salvou pendurando-se em uma das pedras úmidas e geladas da montanha. Ele teria se arrependido de arriscar sua preciosa vida se não fosse pelo seu objetivo no topo. Ao finalmente chegar lá, o viajante olha para trás e vê o abismo aberto querendo o engolir. Por um momento ele se sente magneticamente puxado desfiladeiro abaixo.

— "Se encarar o abismo por muito tempo ele te encara de volta", certo meu jovem?

O viajante pula e quase se desequilibra com o susto. Ele olha logo a frente e encontra o que veio buscar. Um senhor pequeno e muito velho está ali, sentado atrás de uma escrivaninha de madeira onde se vê uma plaquinha que diz "informações".

— Posso te ajudar, jovem viajante?

O viajante olha desconfiado:

— O senhor dá informações...certo?
— Sim, posso te ajudar?
— Que tipo de informação?
— Toda e qualquer tipo de informação que queira saber.
— O senhor pode ser mais específico?
— Ora, não dá para ser mais específico que isso, meu jovem. Eu forneço qualquer tipo de informação que procuras!
— O senhor pode me dar... exemplos?

O velho reclina-se na cadeira atrás da escrivaninha e olha pensativo para cima:

— Bem, posso te dizer o peso médio de um pato-de-crista, qual o tamanho de um prédio de cinco andares em centímetros, o nome da primeira tribo indígena descoberta na história, quem foi...
— Espera, são informações muito precisas, não acha?
— Sim, são precisas com certeza.
— O senhor sabe me informar quantos quilômetros por litro um avião percorre?
— Depende do tamanho do modelo, quanto maior mais beberrão. O monomotor PA28, mais conhecido como Tupi, por exemplo, gasta cerca de 40 litros por hora de voo a 230km por hora - ou seja, faz 5,75 quilômetros por litro.
— Impressionante. O senhor sabe me dizer qual autor com o maior número de livros escritos e publicados?
— Ryoke Inoue, com 1.100 livros publicados e assinados com 39 nomes diferentes.
— Hum, como surgiu...a gravata?
— Há 300 anos, ela era usada como distintivo militar por croatas que fizeram parte do exército francês no século 17.

O viajante ri:

— Não é possível, o senhor por acaso sabe com quantos paus se faz uma canoa?
— Surpreendentemente, um só grande tronco de árvore é necessário.
— Uau, sério? Espera, o que aconteceria se dois buracos negros se encontrassem?
— Eles se juntariam e destruiriam uma galáxia inteira, liberando a energia de 100 milhões de violentas explosões de supernova.
— O senhor tem resposta pra tudo! Me lembra um professor que tive na quinta série.
— Ah, sim, o Sr. Pires de matemática.
— SIM, espera, como o senhor sabe?
— Eu apenas sei, jovem viajante.
— Não, como o senhor sabe? Diga-me?
— Se você pudesse perguntar qualquer coisa para um velho que sabe de tudo, perderia seu tempo perguntando como ele sabe das coisas que sabe?

O viajante pára, incrédulo. Pensa um pouco:

— Tá, quero ver se o senhor sabe dessa. Havia um garoto que morava na minha rua quando eu era criança...
— Marcelinho, Josias, Alan, Rafael, Dener, Betinho, Andr...
— ANDRÉ, SIM! O senhor sabe o que ele costumava fazer toda vez que fazia um gol nos nossos jogos de futebol de rua?
— Claro, ele abaixava as calças e mostrava a bunda pra todo mundo.
— Hahaha, sim era isso mesmo! Nossa, isso me faz sentir nostálgico. O senhor sabe de uma menina, ela foi meu primeiro amor platônico, quando eu tinha 7 anos.
— Ana Kelly, descendente de japoneses, ela morava no seu prédio mas estudava em outra escola. Você saía todos os dias às 11 da manhã no corredor para ver ela passar e poder dar um oi.
— Sim, nossa...



O viajante olha para baixo e suspira.


— Ana Kelly. Me pergunto como ela está agora.
— Ela engravidou aos 17. Casou-se aos 18 e agora está divorciada e com problemas de bebida.
— Puxa, que pena.

Por um momento o viajante se perde em suas memórias, então uma faísca de pensamento o desperta.

— O senhor pode me dar uma última informação?
— Claro que sim, jovem.
— O senhor sabe me dizer como...
— Sim?
— Como se faz... Como ser feliz?

O velho olha com desapontamento.

— Sinto muito, jovem viajante, mas creio que essa informação seja confidencial.
— Ora, por favor, sábio senhor, ajude-me a resolver esse problema que me assola tanto, eu lhe imploro!

Um momento de silêncio.

— Ah, certo, vou te dar essa última informação.
— Obrigado, nobre senhor, muito obrigado.
— Então, o segredo da felicidade é...
— Sim?
— Não fazer perguntas.