5.10.16

Scooby

Quase toda manhã vou à padaria a duas ruas abaixo de casa. Scooby, o cachorro do vizinho, quase sempre está na rua me esperando. Antes de sair já se ouve seus choros e lamentações de cachorro no portão. Quando ponho o pé na rua, ele imediatamente levanta-se do concreto da calçada e começa a saltar de alegria pra cima de mim. Após pulinhos e latidos de excitação, começo a andar e Scooby me acompanha.
Às vezes gosto de pensar que somos uma dupla - não eu como dono e ele como cão, mas como dois amigos que partilham caminhadas matinais em ruas vazias até a padaria. Seus passos empolgados de quatro patas ultrapassam os meus ainda carregados de sono e desânimo. Mas sempre que chega a uma certa distância à frente de mim, ele para, olha para trás e espera até que eu chegue a ele para continuar a andar.
No caminho, outros cachorros nos observam pelos portões de suas casas, e enlouquecem quando vêem Scooby passar saltitando pela rua calma. O latido nervoso dos cães parecem não incomodar Scooby, que os ignora e continua a me acompanhar.
Entro na padaria e Scooby me espera ansioso do lado de fora. Saio de lá, e refazemos o caminho de volta com a mesma empolgação da ida. Enlouquecendo os mesmos cachorros enclausurados em seus quintais.
Quando chego ao portão de casa, Scooby para, apreensivo. Como que soubesse o que está por vir, e como se não gostasse nada do que está por vir. Fecho o portão entre mim e ele e sigo para o café da manhã. Scooby volta a deitar-se no concreto da calçada, esperando eu ou o seu dono relapso sair para rua de novo.
Acho que a felicidade é efêmera para todos.

1.10.16

Domingo

Ainda não achei a cura para o domingo.
O domingo é uma incógnita. Um dia tão barulhento, aglomerado, caótico - mas tão cheio de nada.
Todo desespero e tédio parecem dobrados no domingo.
A desesperada busca por distração torna-se mais acirrada. O tédio diário é acentuado. As pessoas ficam mais idiotas porque estão mais em bando no domingo. Todo mundo fica idiota em bando. Todo mundo fica mais idiota no domingo.
Lugares normalmente vazios ficam cheios no domingo.
Lugares normalmente cheios ficam vazios no domingo.
O vazio fica mais vazio no domingo.
Um panda morre todo domingo.
Domingo é um dia estatisticamente chato.
Domingo é estar livre para fazer o que quiser, não saber o que fazer e ter preguiça de fazer, aí acabar lendo um texto idiota no facebook.
É a sonolência pós almoço, a depressão da semana, a TPM do calendário.
É a noite das vídeo cacetadas. É o dia antes da segunda-feira.
Todos as coisas boas estão de folga no domingo.
Domingo é pé de cachimbo.
Cachimbo é de ouro bate no touro.
O touro é valente e, argh...
Ainda trabalhando para achar a cura para o domingo.