30.9.20

#8 - Sobre o sentido da vida

Você conhece o mito de Sísifo?

Sísifo é um personagem da mitologia grega que foi condenado pelos deuses a empurrar uma rocha morro acima só para quando chegasse ao topo, vê-la rolar novamente morro abaixo. Forçando-o assim, a repetir o árduo trabalho todos os dias, por toda eternidade.

O filósofo existencialista Albert Camus usou o mito de Sísifo em um livro homônimo para melhor explicar sua ideia de absurdismo e responder o que é, pra mim, uma das mais importantes e instigantes questões da humanidade:

"Qual o sentido da vida?"

O absurdo filosófico de Camus nasce no atrito entre a nossa necessidade inerente de ver ou colocar sentido/significado em tudo e a aparente indiferença e falta de propósito do universo perante nós.

 Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, acorda, ônibus, trabalho, ônibus, cama, acorda, ônibus... Fazemos e refazemos nossas árduas tarefas dia a dia, mês a mês, ano a ano. Como Sísifo. Estudamos, trabalhamos, nos ocupamos com a expectativa de que isso nos leve a uma recompensa no final. Um propósito que atribuímos a todas as coisas. Para um dia, assim, sem aviso prévio, morrer. Todos os sonhos e propósitos interrompidos abruptamente. Todo tempo gasto para acabarmos no mesmo destino de todo outro ser. A morte.

Com esse pensamento em mente, você pode vir a se perguntar "pra que isso tudo?" As coisas começam a perder a forma. Esse vazio, esse coquetel de angústia e apatia é a sensação de absurdo de Camus.

Mas qual a cura para o absurdo? Qual a solução para o vazio existencial? 

Camus nos dá duas principais opções:

A primeira é o suicídio. Camus não gosta dessa saída. Ele valoriza a experiência. A experiência se encontra na vida e vice e versa. Todo estímulo de experiência boa e desestímulo de experiência ruim é melhor que a ausência total e definitiva da consciência na morte. A vida é melhor que a morte assim como a saúde é melhor que a doença. 

Camus também afirma que problemas e crises não sobrevivem ao tempo de uma vida. Problemas têm fim e os que não têm, com o tempo se adaptam e se ajustam aos limites de sua vivência e se tornam parte da melhor parte de você.

A segunda, e a escolha favorita de Camus, é encarar o absurdo com entusiasmo. Abraçá-lo e fazer valer o minúsculo vislumbre que temos do universo. É viver apesar dos horrores e do marasmo. É firmar as rédeas de sua vida e investir todo o tempo naquilo que te dá prazer.

"É preciso imaginar Sísifo feliz!" Diz Camus.

As ideias de Albert Camus batem muito com a posição filosófica que adotei em relação a vida e ao universo de uns tempos pra cá. O niilismo otimista - ou niilismo positivo - também afirma que a vida não tem nenhum sentido intrínseco. 

O sentido quem dá ou fabrica somos nós mesmos, quando existimos e nos chocamos de cara com o vazio e a indiferença do cosmos.

Esta é a beleza da ideia: transformar algo aparentemente desesperador e negativo em algo positivo e libertador. Afinal, o quão chato seria se todos tivessem um propósito predeterminado para sua existência e caminharmos na mesma estrada para chegarmos ao mesmo fim? Que tal pegarmos estradas diferentes, você e eu?

A vida não tem sentido e tá tudo bem. O importante é viver o agora, estar sempre no presente e deixar a morte para o futuro. O que importa é a jornada, não o destino.

Você não lê um livro pelo seu fim. Senão pularia logo para as últimas páginas.

"Sísifo sempre recomeça por mais absurdas que sejam as tarefas humanas, ele mantém a sua consciência e continua seu trabalho. A luta para fazer a pedra chegar ao cume, basta para encher o coração de um homem."


                                                   - Albert Camus