26.6.12

Do que me arrependo nos tempos escolares

Me arrependo de ficar calado demais. Me arrependo de não responder à altura. De não ofender quando fui ofendido. Não ferir quando fui ferido. Não perseguir quando fui perseguido.

Olhando para trás agora, vejo que poderia ter sido diferente. Poderia ter deixado de ser apenas um fantasma passivo e ter deixado alguma história. Poderia ter deixado um legado. Poderia ter deixado minha marca em escolas, marcando rostos de pessoas que me marcaram. Olho por olho.

Nunca briguei e nunca fui de brigar. Não porque sou um hippie paz e amor. Mas porque tinha medo das consequências. Tinha medo da dor caso apanhasse e medo das represálias caso batesse. Muitos dos meus agressores sempre foram maiores e mais fortes que eu. Isso sempre fazia com que eu atuasse como a mulher submissa que apanhava calada, sem revidar. Outros deles eram menores e tinham o mesmo físico que eu. Ou seja, físico nenhum. Eram caras que eu tinha certeza que poderia bater, mas mesmo assim, nunca reagi.

Numa única vez, num momento de explosão, quando finalmente resolvi revidar, acabei acertando a professora com uma cadeira.

E só hoje penso que poderia ter sido diferente. Poderia ter me arriscado, ter corrido perigo. Socar e ser socado. Xingar e ser xingado. Subir alguns degraus a mais na cadeia alimentar e ser o predador. Ter deixado o sangue escorrer. Ter a carne esmagada, ter estourado veias e colecionado hematomas. Ter uma participação mais ativa na seleção natural. Ter sido a caça para depois ser o caçador. Só para ter vivido tempos menos monótonos.


22.6.12

Procrastinação

Um texto extra que não é de minha autoria, mas transmite muito do que penso sobre a procrastinação.


"Procrastinação" foi a última palavra que me lembro ter aprendido. Sempre me faltou uma palavra que descrevesse esta coisa, essa coisa de evitar o inevitável, só por evitar e parecer evitável.
Aprender esta palavra e seu significado, foi como descobrir uma cor nova, um signo novo, uma nova nota musical. E sempre soou como uma cor cinzenta mas não cinza nem matizada, um signo perdido entre o solstício e as revoluções, entoado numa nota entre o trítono e o sacro.
"Procrastinar" soa bem, apesar dos pesares.

Se diz que procrastinar, é como masturbação : a sensação é boa, mas você só está fodendo consigo mesmo.

Procrastinar, é escrever num blog. Procurar inspiração. Fazer algo inútil para que consiga começar algo útil. É tomar o caminho mais longo e estático, porque o caminho mais curto é muito enérgico.
É o deixar para depois, e depois deixar um pouco mais. Inflar a realidade com gas hélio, engraçado, vazio e volátil. Observar as coisas em câmera lenta, de trás-para-frente, e observar de novo, não prestar atenção, e ver pela terceira vez. Tamborilar no braço do sofá, tomar um café. É o botão "soneca" do celular. Mais cinco minutos. Mais vinte minutos. Mais uns dias.

Procrastinar é pegar a existência uma vez sólida e compacta, e esticá-la num fio finíssimo e longo. É viver numa bola de chiclete, enorme e cheia de ar por dentro até estourar. E daí fazer outra bola.
Procrastinação é homeopatia, fazer tudo em pequenas doses, um pouco por vez, e um pouco de tudo. Procrastinação é procurar sinônimos e adjetivos, palavras e coisas para continuar escrevendo antes de chegar a uma conclusão final.

Procrastinar é evitar a conclusão final no fim depois que acaba.

19.6.12

E aí, já conseguiu um emprego?

Descobri que o meu maior castigo é ficar em casa por tempo indeterminado. E desde que o meu ex-patrão me castigou, vivo com a cabeça sobrecarregada de preocupações. Quando eu trabalhava estava me sentindo finalmente contente comigo mesmo. Minha auto estima tinha melhorado, assim como minha timidez. Me sentia mais responsável, vivo e ainda ganhando um dinheiro. Até mesmo os meus horários eu havia conseguido corrigir. Acordava de manhã para tomar café da manhã, almoçava na hora do almoço, jantava na hora certa. Tinha feito planos, traçado metas. Todos esses planos e metas foram destruídos quando fui demitido.

 Agora voltei ao meu estado normal de deprimido. Me sinto um lixo e estou sem dinheiro. Agora durmo às 3 da manhã e acordo ao meio-dia, meu café da manhã é o almoço, meu almoço é ao anoitecer e vou jantar quando já devia estar dormindo. Não vejo mais futuro, não tenho mais propósitos, não sei mais qual é o próximo passo a dar. Todo esse vazio está corroendo a minha mente e consumindo o meu corpo. Isso não é viver, é morrer aos poucos. Aí você diz: "Ah, para de reclamar, todo mundo já foi ou vai ser demitido na vida, então faça como todo mundo e arranje um emprego novo." O problema é que eu não sou como todo mundo. Eu até já fui procurar emprego, e sabe o que eu encontrei? Decepção.

 Acontece que todos os empregos por aí, para um jovem inexperiente como eu, são empregos que eu sempre abominei ter. Empregos que tiram a minha vontade de viver. Sim, é bem assim mesmo!

 Daí você vem com aquele argumento: "Ah, mas é assim com todo mundo, você primeiro trabalha com o que não gosta, para depois trabalhar com o que gosta."

 Empregos que eu "não gosto", ainda são empregos "suportáveis" pra mim. O emprego que eu tinha na farmácia era um emprego que eu não gostava. Mas mesmo assim eu o achava suportável, o emprego "melhor do que nada". Na verdade quando eu saio para procurar emprego é desses que eu espero achar, "não gosto, porém suporto", empregos "melhor do que ficar em casa".

 Mas não, quando saio para procurar emprego os poucos que encontro são do tipo, "abominável e insuportável", "odeio e não me interesso nem um pouco". empregos do tipo, "desencorajador, desistimulante, desanimador, fora das minhas limitações, sem chance de me dar bem". Empregos que eu não teria o minímo de ânimo para trabalhar. E se você souber como se trabalha sem um pingo de ânimo, me diga por favor, porque pra mim isso ainda é um mistério. Atualmente me mandar procurar emprego é como mandar um vegetariano para a churrascaria. Não dá certo. Não sei o que fazer.

16.6.12

Eu não morri, meu computador sim

Queria dizer que depois de um tempo estou devolta. Aguardem novos textos e muito obrigado.
Ah sim, meu computador tinha morrido, mas agora já tá tudo bem.