28.3.14

Definitivamente

Esse é definitivamente o último post do blog. É eu sei, não é um déjà vu que você está tendo agora. Sei que já encerrei esse blog outras vezes antes e sempre voltei atrás. Mas dessa vez eu não volto, é sério. Sinto que o Blog Chato deve ser uma fase que deve ser superada. Ideias, vontade, inspiração, propósito, está tudo em falta. Não tenho mais o porque de continuar com isso. Sinto muito ao pessoal que vai sentir falta dos textos e muito obrigado aos que acompanharam o blog até seu fim. Não vou excluir o blog só abandoná-lo. Bom, vou ficar umas duas ou três semanas monitorando os comentários para prováveis perguntas, dúvidas e mensagens em geral que possam surgir e logo depois vou abandoná-lo, deixá-lo à deriva nesse vasto oceano que é a internet.

Mais uma vez muito obrigado, e até breve.





                                                                                            Andrew Oliveira Souza
                                                                                                                 ou Andy

12.3.14

Ainda assim elas vivem

As pessoas vivem. Elas vivem para aprender, crescer, conseguir um bom emprego, encontrar a felicidade, encontrar alguém. Seja lá qual for o motivo, elas vivem. Porque vale a pena. Porque é melhor viver.

 Apesar das dores sofrimentos, decepções e frustrações. Vale a pena viver. Apesar dos horrores, das tragédias, fatalidades e mazelas. É melhor viver.

 É melhor sempre estar correndo o risco de vivenciar algo bom no meio de tanta coisa ruim, do que simplesmente não vivenciar nada. "Viver é sofrer" já dizia alguém que não me lembro o nome. Sentimos dor pois procuramos viver. Ao longo e tortuoso caminho da vida, alguns procuram drogas, deuses, meios de aliviar a dor mesmo que por um curto período de tempo. Alguns até escolhem mergulhar no mar da ignorância e ignoram os problemas e defeitos da vida. Quando descobrimos que drogas acabam a nossa saúde, que deus não passa de um grande placebo da sociedade e que viver na ignorância custa nossa sabedoria, caímos em depressão novamente.

 Saber demais também custa caro. A ignorância é uma benção relativa. Maldição é saber demais. Quando se olha ao redor e se dispara "por ques" para todos os lados não costumamos chegar a respostas muito animadoras. Qual o sentido da vida? Existe alguém olhando por nós? Onde se encontra a felicidade? Trabalhamos para viver, ou vivemos para trabalhar? Muitas perguntas para poucas respostas.

Não acredito que haja um sentido na vida. Acredito que cabe à cada um dar seu próprio sentido a sua própria vida. Para assim evitarmos ou pelo menos reduzirmos a sensação de viver a esmo.

É duro acreditar que não há ninguém lá fora para cuidar da gente. É difícil aceitar que muito provavelmente estamos todos sozinhos. Para alguns chega ser até insuportável. Não acho que tentar arrancar a fé das pessoas a força seja a coisa certa a se fazer. Ainda mais quando essa pessoa estabelece deus como o sentido da sua vida. Tirar-lhes deus é tirar a principal pilastra de sua sustentação. Para alguém não preparado pode ser perigoso. Alguns podem viver bem sem deus, outros não. Acho que o máximo que se pode fazer é mostrar-lhes a porta, porém somente eles devem atravessá-la.

Também não acredito que uma pessoa possa SER feliz. Acredito sim que ela possa ESTAR feliz. A felicidade é momentânea. Como simples estações em uma longa linha de trem. Ela vem e vai, para depois vir e passar de novo. Portanto a sua procura é uma perda de tempo. A felicidade está aí, fragmentada e espalhada em vários pontos ao decorrer de sua vida.

Acho que infelizmente nós trabalhamos para viver e vivemos para trabalhar. Na minha cabeça o conceito de trabalho está deturpado. Sempre achei que o ser humano só trabalha para conseguir viver a sua vida. Mas hoje podemos ver que o trabalho tira em média 5 dias por semana e 12 horas por dia de tempo das nossas vidas. Deixando apenas 2 dias por semana para enfim vive-la. Trabalhamos mais do que vivemos e ao meu ver isso é triste. A vida é como ela é. E ainda assim as pessoas vivem.

3.3.14

O Experimento

Dia 24 de fevereiro de 2014. Fiquei o dia e a noite toda ponderando. Decidindo se colocaria o experimento em prática ou não. Só me decidi poucas horas do seu início. Não era só um experimento mas também um simples passeio, uma saída para uma sessão de cinema. Na verdade era mais uma saída para uma sessão de cinema do que um experimento. Tá, era uma saída para uma sessão de cinema, que devido as circunstâncias, caiu muito bem como um experimento, um teste.

 Eu queria assistir um filme chamado "Ela" (Her) do Spike Jonze. O enredo me atraiu e o elenco era ótimo. Além de eu ter uma certa simpatia pelo Joaquim Phoenix. Acontece que esse filme não estava em exibição nos cinemas que eu costumava frequentar. Dessa vez tive que me esforçar mais e descobrir o cinema mais perto de casa em que o filme em questão estava passando. Descobri o Cinépolis do Shopping JK Iguatemi. Shopping fino, de alta classe. Frequentado em sua maioria por gente de alto poder aquisitivo, frescos, engomadinhos e mauricinhos em geral. Aliás era um local jamais visitado por mim antes. Um cenário novo que me deixava inseguro e nervoso para uma visitação. Ambiente perfeito para colocar em prática um dos meus maiores medos e inibições: Exposição social em área desconhecida.

 Dia 25 de fevereiro de 2014. Cheguei em casa às 9 e pouco do serviço ainda hesitante. Já pensando em desistir. "Ela" seria exibido em apenas dois horários naquele dia, 13:30 e um outro depois das 18:00. Queria evitar o trânsito, então decidi que se eu fosse mesmo teria que ser do horário das 13:30. Não me deixei mais pensar em nada, coloquei o celular para despertar dali a 2 horas e fui dormir para evitar cochilos durante a sessão. Acordei às 11:48 mais ou menos. Um pouco antes do celular despertar. Era o nervosismo, acho. Não coloquei a minha melhor roupa, pois num ambiente luxuoso poderia atrair olhares julgadores. O que deixaria o experimento mais afiado. Saí de casa por volta das 12:00, sem almoçar. Tinha uma hora e meia para pegar um ônibus, um trem e chegar lá a tempo. Na minha cabeça era tempo o suficiente. E era mesmo. Eu só não contava com a imprevisibilidade da vida. Um acidente parou toda a avenida em que meu ônibus se encontrava. Fiquei um tempo preso no congestionamento mas consegui chegar no terminal.

 O trem também demorou pra sair. A viagem de trem até a estação em que eu ia descer levava em média 25 minutos. A sessão começava às 13:30 e o trem só começou a andar às 13:15. Fora o tempo que levaria a caminhada até lá, a procura do cinema em um shopping de 4 andares e a procura de um banheiro para evitar "interrupções urinárias" durante o filme. Cheguei a estação e fui direto ao banheiro. Do banheiro fui direto ao shopping. No caminho até lá, exércitos de executivos empacavam meu andar apressado. Cheguei no shopping e me deparei com um saguão enorme e espaçoso, com várias lojas de nomes de marcas que jamais ouvi falar. Não havia mais tempo para procurar, então fui logo perguntando para um dos seguranças onde ficava o cinema. Não lembro do que ele disse mas segui suas instruções.

 Subi três lances de escadas rolantes e para todos os lados que olhava só via executivos. Engravatados, camisas sociais bem passadas e valises de couro cintilante. Avistei o cinema. Sua entrada principal estava a 20 passos de mim, porém parecia bloqueada. Numa conversa entre um cliente e uma das atendentes, ouvi que o único acesso do cinema naquele momento, seria descendo no elevador e subindo mais um lance de escadas do outro lado, para uma entrada alternativa. Foi o que fiz. Cheguei na bilheteria e comprei o ingresso de 45 reais. Minha barriga roncava de fome, mesmo assim fiz como de costume, não comprei pipocas nem refrigerantes para não dividirem a minha atenção com o filme.

 Cheguei a tempo, na metade do último trailer antes do filme. A sala de projeção tinha formato de arquibancada. No lugar das habituais poltronas haviam sofás bem estofados, com uma espécie de mini abajur em cada lado. "Ela" começou. Somente ao término da sessão que fui notar, que na sala só tinha eu e mais duas senhoras de idade o tempo todo. Uma delas até abandonou a sessão aos 15 minutos finais.

 Ao sair do cinema, quando caminhava tranquilamente pelo shopping de encontro a saída, lembrei do experimento. Percebi que desde a minha chegada até o momento não me senti envergonhado, nervoso ou inibido de maneira alguma. Também não me lembro de ter visto um olhar julgador sequer. Ali, no meio do saguão espaçoso do Shopping JK Iguatemi, entre os executivos que iam e vinham, me senti normal, me senti mais um. No trem no caminho de volta pra casa, me senti a vontade no meio das pessoas, não me sentia mais um alien. Me sentia bem, me sentia igual a todo mundo ali. Além de fome, no final daquele dia, sentia um frio na barriga, e uma sensação de missão cumprida. Sensação tão rara pra mim. O experimento de exposição foi um sucesso. Sucesso que me trazia uma sensação boa, sensação boa que acabaria logo, eu sabia. Mas também soube que devia continuar tentando, para quem sabe um dia, transformar algo efêmero em algo contínuo.