5.8.17

Peço desculpas por todas as vezes que recusei ou resisti a um convite para assistir a um filme com quem quer que seja, alegando estar "cedo demais". 
Eu sou o chato exigente dos filmes. Mas, acredite, é por um bem maior.
O bem de ser capturado e transportado para mundos fantásticos de histórias inesquecíveis. Os filmes fazem isso. Todo bom filme oferece uma "viagem" diferente. Mas eu só "viajo" se o estiver acompanhando com atenção.
Você sabe assistir a um filme? 
Não que haja regras para se assistir um. Mas há uma maneira melhor.
Deve-se saber que, para quem vê o cinema como mais do que um passa-tempo ou um rolê de final de semana, como eu, assistir filmes é uma atividade que requer máxima atenção e concentração. Trata-se de usar seus olhos, orelhas e mente para que se conecte inteiramente na experiência que cada filme pode oferecer. Porque, sim, filmes são mais do que obras audiovisuais: são experiências sensoriais poderosas - ou, ao menos, os melhores deles são. Imersão é a palavra-chave. Deve-se estar imerso para que se absorva toda informação da narrativa e toda emoção que o filme transmite. Atenção e concentração trazem imersão, que, por sua vez, faz com que aproveitemos o filme em sua forma mais plena. Por isso vejo filmes à noite. Silêncio e escuridão - o ambiente ideal. O dia é claro e barulhento. A luz do Sol que entra pela janela, quando não causa reflexos, ofusca a imagem da tevê. Uma sala iluminada na hora do filme dispersa a atenção. Um celular no escuro vira um holofote. E considerando que até os momentos de silêncio nos filmes são feitos para se ouvir - pois, muitas vezes, são importantes para a construção do suspense, por exemplo - , qualquer ruído é suficiente para me tirar da imersão. Se não estou minimamente imerso, não assisti ao filme de fato.
Não embarquei na viagem. Nunca se sabe quando um filme vai ser bom ao ponto de te tirar do seu mundo e te envolver por duas horas. Então quando o filme começar, quero garantir que estarei ligado nele.

18.4.17

o amor

Ao longo de quase duas décadas e meia de vida, pude observar que:
A gente não devia amar quem não nos ama.
O amor é uma faca de dois gumes, realmente. Ele pode te levar para as nuvens e ser a coisa mais linda que você pode experimentar. Mas com meio passo dado fora da curva ele se transforma na coisa mais cruel e todo papo de "o amor é lindo" vai por água abaixo. Para que o amor funcione do jeito que todo mundo gosta, ele deve vir dos dois lados e nunca só de um. Se não houver essa reciprocidade, ou ela acabar no meio do caminho, o amor será apenas dor e sofrimento. E é aí que toda canção chorosa sobre amor começa a fazer sentido. É como se o amor fosse pesado demais para ser carregado por uma pessoa só. É como se fosse uma brincadeira de cabo de guerra, onde tudo se sustenta pelo esforço de ambos os lados, e um cai e se machuca se o outro largar a corda.
O amor sempre vai depender de outra pessoa além de você. Por isso ele é tão frágil e complicado.
Por isso a gente não devia amar quem não nos ama.
Mas, eventualmente, a gente ama. E sofre por isso.

15.2.17

Quando desempregado, vivia querendo ocupar meu tempo livre.
Agora, empregado, sinto falta do tempo livre que o trabalho consome.
E eu já escutei aquela frase pronta de que "o ser humano nunca tá satisfeito" sendo dita num tom negativo várias vezes. Como se fosse ruim nós nunca estarmos satisfeitos com nossas vidas.
E não, não acho ruim. Digo, é obviamente ruim por um lado, mas o nosso descontentamento constante pode ser saudável.
Isso impede de levarmos uma vida estacionada, estagnada, monótona. Isso nos motiva a sempre querer a mudança e dá movimento aos nossos dias.
É por isso que eu acho que a felicidade que tantos buscam não se encontra no horizonte, esperando nossa chegada. A felicidade não está no futuro, está aqui, diluída e dividida no presente. Em pequenos momentos, indo e vindo ao nosso encontro continuamente.
Nunca estaremos definitivamente satisfeitos porque sempre vamos querer mais.

7.2.17

Você já parou para pensar o quão foda é o sono?
Não só o sono, mas o ato de dormir em si:
Seu corpo e mente começam a pesar.
Sua atenção e reflexos são reduzidos.
Você é naturalmente entorpecido.
Você repousa, fecha os olhos e, em um instante, perde a consciência. Não vê quando nem como, você só apaga.
Aí começa.
Sua mente se auto anestesia desligando todos os músculos do seu corpo.
A temperatura corporal cai.
No estado mais profundo do sono sua atividade cerebral pode ser tão ou mais intensa do que quando se está acordado.
Seus olhos passam a se mover rapidamente para todos os lados, dentro da suas pálpebras.
Eventualmente, sua consciência é transportada para outros lugares.
Conhecidos, ou não.
Existentes, ou não.
Com alguém conhecido, ou não.
Em situações ruins ou boas.
E você pode jurar que está em outro lugar. Apesar de ainda estar na cama.
Dormir é o mais próximo de algo transcendental que podemos chegar, acredito eu.
É algo quase espiritual. Etéreo.
De outro mundo.
É quase como uma experiência extracorpórea.
Quem precisa de experiência extracorpórea quando se pode tirar uma soneca?