25.11.16

Dominique

Dominique não gostava do seu nome. Achava masculino demais. Por isso o evitava sempre que podia. Exigia ser chamada pelo apelido. Apresentava-se sempre como Nique. Muitos de seus amigos não sabiam o seu verdadeiro nome. Isso era bom.
Era uma menina magra e um pouco baixa para sua idade. Pele morena. Olhos grandes e vacilantes que carregavam uma insegurança latente. Não era tímida, apenas quieta.
Tinha vergonha do seu rosto coberto de espinhas e o escondia atrás das longas madeixas ressecadas. Achava seu nariz redondo demais para ser chamado de nariz, e também o escondia com o cabelo.
Achava melhor assim.
Entre seus talentos estavam: estralar os joelhos ao saltar, e os ombros ao levantar os braços bem rápido acima da cabeça; envesgar o olho esquerdo enquanto deixava o direito perfeitamente alinhado; zerar o primeiro Metal Slug sem morrer e tocar violão - ou "violar tocão", como costumava dizer pra ser engraçada.
Dentre seus medos estavam: baratas voadoras, falar em público, ficar sozinha, envelhecer, passar a imagem de metida, ser pega dançando sozinha no quarto, ter os pensamentos lidos por alguém, nunca se livrar das espinhas, nunca ter peitos e nunca ser amada.
Nique tinha a mania de se rebaixar para não passar o ar de metida.
Tadinha, confundia boa autoestima com arrogância.
Até mesmo elogios ela tinha dificuldade de aceitar. Elogios preenchiam o ego. E o ego era uma coisa perigosa. "Quanto mais alto, maior o tombo. E o mesmo vale pro ego. Agora, quando se está de cara no chão, não se pode mais cair." ela dizia.
Nenhum dos seus amigos entedia o que ela queria dizer com isso.
No entanto, era uma ótima amiga. Todos os seus quatro amigos diriam o mesmo sobre ela. Uma companhia energética, que realmente fazia falta quando não estava por perto.
Era engraçada.
Não palhaça, mas inteligentemente engraçada. Um senso de humor surpreendentemente refinado do tipo que poucos apreciam. Além da sutileza, da cara de pau que ela tinha. Nique sabia, como ninguém, usar a seriedade para camuflar suas piadas. Quase nunca se notava o humor oculto em suas palavras, e quando se notava, você não só ria mas se apaixonava cada vez mais pela sua inteligência.
Isso garantia charme a sua personalidade. Nique podia não ser uma Victoria's Secret, mas tinha o charme magnético que falta em qualquer miss. A personalidade, o senso de humor, a despretensiosidade tornavam-na atraente para as pessoas.
Nique namorou um menino dois anos mais velho que ela por cinco meses. Foi seu primeiro e último relacionamento. O menino terminou tudo, dizendo que estava cansado de ajudar Nique arrastar sua autoestima pra lá e pra cá. Ninguém entendeu bem o que ele quis dizer.
Mas ela sabia. Não era a primeira vez que sua mania de se rebaixar acabava afastando pessoas. E isso a deixava péssima. Ninguém nunca viu Nique chorar, mas sabiam que acontecia regularmente.
Sempre que tentavam conversar sobre o assunto ela pulava para outro. Se insistissem, ela dizia que não queria falar sobre aquilo. Se tentassem mais uma vez, ela simplesmente ia embora e não falava com você por uns dois dias. Depois voltava a falar como se nada tivesse acontecido. Esta punição de dois dias era o suficiente para que não trouxessem mais o assunto à tona.
A vizinhança comentava que aquela menina com nariz de coxinha andava muito triste.
Um dia, Nique finalmente desabafou com uma amiga. Disse que queria mudar pois sabia que ia acabar sozinha, e isso era um de seus medos. Não queria mais se jogar pra baixo. Queria aprender a ter autoestima e se valorizar.
Levaria um tempo até Nique entender que seus defeitos eram apenas características. Todo mundo é diferente e sempre tem alguém pra te amar, não importa como você seja. Entender que não é errado reconhecer suas qualidades.
Levaria um tempo até ela compreender que o primeiro ato de amor e aceitação deve partir de você mesmo.
A vizinhança comenta que ela conheceu um novo garoto. Dizem que os dois se dão muito bem. Ela gosta do sorriso dele e ele acha o nariz dela uma gracinha.
Dizem também que quando o menino perguntou seu nome ela respondeu: "Me chamo Dominique. E o seu?"

9.11.16

Desperdiçar gente

Lembro-me de ter um talento: desperdiçar pessoas.
Sempre fui ótimo nisso. É um dom que nasceu comigo e que venho cultivando há anos. Sou um autodidata na arte de desperdiçar gente.
Por toda minha vida é o que sempre fiz.
Lembro-me de me calar em conversas com colegas de escola. De recusar-me a participar das aulas de educação física.
Quando não se exercita um músculo, ele atrofia.
Lembro-me de trabalhar em uma farmácia. Me sentir deslocado com as pessoas de lá, descobrir que gostava dessas pessoas, e que não sabia demonstrar isso para elas. E de ser demitido quando estava começando a me sentir bem trabalhando lá.
Lembro-me de conhecer gente que nunca mais vi. De rejeições e desinteresses. De desculpas esfarrapadas e de falta de reciprocidade. Da falta de atenção. A impressão errada.
Ah, a impressão errada.
É por esse meio que consigo afastar as pessoas, e, por fim, desperdiçá-las.
Porque a primeira impressão é a que fica. Infelizmente. Aí vêm o silêncio constrangedor. O pré julgamento. Reputação suja. Não há segundas chances. Ninguém tem tempo pra isso.
E aí já viu, né? Ostracismo instantâneo.
É justo ser punido por não obedecer as regras do jogo, sem nem saber quais regras ou que jogo se está jogando?
Também acho que não.
Mas seguimos em frente.

Toda essa coisa de trabalho

Sabe o que eu odeio?
Toda essa coisa de trabalho.
Primeiro: não sou nenhum preguiçoso que gosta de ficar em casa sendo sustentado pelos pais. Odeio ter que pedir dinheiro pra quem for.
Mas por outro lado, odeio também, todo o processo de procurar, encontrar e conseguir um emprego que não gosto. E depois ter que agir como se estivesse adorando, para passar aquela imagem de boa vontade para seus superiores e colegas de trabalho. Pra mim, é tudo um absurdo gigantesco. É cruel e imensamente desestimulante. É aceitar ser tratado como robô e rejeitar tudo que te faz ser humano. É uma desumanização criminosa!
Sério, pra mim é nesse nível.
É uma das coisas que mais me deprimem. Me deixa puto de verdade.
E o mais curioso é que eu pareço ter uma hipersensibilidade quanto a isso. Porque todos ao meu redor parecem aceitar numa boa. Ou pelo menos têm uma tolerância melhor que a minha. Ou quem sabe só não expressam sua indignação num texto do facebook, porque isso não vai resolver nada.
Ora, então por que não trabalhar com o que se gosta? Porque meu emprego dos sonhos requer a quantia de dinheiro que não tenho, e a coragem e estímulo que me é sugada todas as horas que trabalho num emprego que odeio. Não é uma opção.
E todas aquelas frases bonitas e motivacionais do tipo "trabalhe com o que goste e nunca terá que trabalhar na vida" não se aplicam na vida real.
Eu sei que a vida é difícil, e a gente tem que suportar muita merda pra quem sabe um dia, conseguir fazer o que gosta. Mas só queria deixar claro que odeio muito isso.
Sei lá, ter que trabalhar com o que não gosta é tão comum que as pessoas parecem ter se conformado. E eu não quero ser uma delas.
Este texto foi só pra te lembrar que não, não tá tudo bem, mas... Tudo bem.

5.10.16

Scooby

Quase toda manhã vou à padaria a duas ruas abaixo de casa. Scooby, o cachorro do vizinho, quase sempre está na rua me esperando. Antes de sair já se ouve seus choros e lamentações de cachorro no portão. Quando ponho o pé na rua, ele imediatamente levanta-se do concreto da calçada e começa a saltar de alegria pra cima de mim. Após pulinhos e latidos de excitação, começo a andar e Scooby me acompanha.
Às vezes gosto de pensar que somos uma dupla - não eu como dono e ele como cão, mas como dois amigos que partilham caminhadas matinais em ruas vazias até a padaria. Seus passos empolgados de quatro patas ultrapassam os meus ainda carregados de sono e desânimo. Mas sempre que chega a uma certa distância à frente de mim, ele para, olha para trás e espera até que eu chegue a ele para continuar a andar.
No caminho, outros cachorros nos observam pelos portões de suas casas, e enlouquecem quando vêem Scooby passar saltitando pela rua calma. O latido nervoso dos cães parecem não incomodar Scooby, que os ignora e continua a me acompanhar.
Entro na padaria e Scooby me espera ansioso do lado de fora. Saio de lá, e refazemos o caminho de volta com a mesma empolgação da ida. Enlouquecendo os mesmos cachorros enclausurados em seus quintais.
Quando chego ao portão de casa, Scooby para, apreensivo. Como que soubesse o que está por vir, e como se não gostasse nada do que está por vir. Fecho o portão entre mim e ele e sigo para o café da manhã. Scooby volta a deitar-se no concreto da calçada, esperando eu ou o seu dono relapso sair para rua de novo.
Acho que a felicidade é efêmera para todos.

1.10.16

Domingo

Ainda não achei a cura para o domingo.
O domingo é uma incógnita. Um dia tão barulhento, aglomerado, caótico - mas tão cheio de nada.
Todo desespero e tédio parecem dobrados no domingo.
A desesperada busca por distração torna-se mais acirrada. O tédio diário é acentuado. As pessoas ficam mais idiotas porque estão mais em bando no domingo. Todo mundo fica idiota em bando. Todo mundo fica mais idiota no domingo.
Lugares normalmente vazios ficam cheios no domingo.
Lugares normalmente cheios ficam vazios no domingo.
O vazio fica mais vazio no domingo.
Um panda morre todo domingo.
Domingo é um dia estatisticamente chato.
Domingo é estar livre para fazer o que quiser, não saber o que fazer e ter preguiça de fazer, aí acabar lendo um texto idiota no facebook.
É a sonolência pós almoço, a depressão da semana, a TPM do calendário.
É a noite das vídeo cacetadas. É o dia antes da segunda-feira.
Todos as coisas boas estão de folga no domingo.
Domingo é pé de cachimbo.
Cachimbo é de ouro bate no touro.
O touro é valente e, argh...
Ainda trabalhando para achar a cura para o domingo.

7.9.16

Olha a vida passando

Olha a vida passando aí. Em sua previsibilidade amarga e ritmo implacável, sem te esperar.
Olha ela passando outra vez diante de seus olhos.
A cada pôr do Sol desperdiçado.
A cada passo não andado.
Cada atitude não tomada.
Cada movimento não feito.
Lá se vai ela de novo.
Olha a vida passando no espelho.
No fundo do olho vermelho.
No despentear de cabelo.
No plano que não funciona e em toda cicatriz que você coleciona.
Olha a vida indo embora. Como um ônibus que não se conseguiu pegar. Como um táxi que não quis esperar. Como um trem que não se pôde embarcar.
E assim ela segue. Uma locomotiva impiedosa que te obriga a acompanhar seu ritmo, ou ser deixado para trás. A cada estação uma nova chance de fazer diferente. E mesmo assim você espera a locomotiva parar pra você, de alguma maneira, tentar.
A todo nascer do Sol.
Toda vontade inibida.
Toda palavra não dita.
Toda hora perdida.
E você observa a vida passar pela janela gradeada.

29.8.16

Usamos uns aos outros. Ao menos é o que parece. Relações humanas em geral não passam de um uso egoísta mútuo.
Você me faz rir.
Me dá companhia na solidão.
Me ocupa a mente no tédio.
Não sei o que faria sem você.
Quando você não tiver mais nada a me oferecer, terminamos. Ou nos afastamos aos poucos, até esquecermos um do outro.
Você nunca mais falou comigo, o que aconteceu?
Já te usei o suficiente, suguei toda sua atenção e carinho, esgotei seus recursos, acabou. Seus serviços não são mais necessários. Vou atrás de novas amizades, pegá-las na palma da minha mão, colocá-las na glande do meu ego, e usá-las até secar. Então parto pra outra.
Mas não se engane, o usado também usa. É um uso mútuo, lembra? Portanto, se é mútuo, tudo bem, né?
Isso não é uma denúncia, reclamação ou protesto. Somente uma constatação curiosa.
Posso estar errado.
Minha experiência em relações humanas é meio escassa.

20.8.16

Fútil

Seu cabelo não tem mais jeito. Em um mês ele se torna empenteável, porque está muito grande. E obviamente, você não gosta. Você não gosta quando ele está muito curto também. Uma pena, pois com sua máquina você só sabe cortá-lo baixo e você não quer gastar 15 reais todo mês para cortarem pra você. Seu cabelo não tem mais jeito.
Parece fútil, mas seu bem estar depende disso. Sua vida depende disso. Quando não se consegue gostar de si mesmo, o que se faz? Quando se sente uma carcaça velha, feia e vazia, como proceder? Doutora, queria te dizer que não tá dando mais.
Isso cansa, é cruelmente desgastante viver assim, se sentir assim.
Você queria seu cabelo liso de antigamente. Com ele dava pra ficar meses sem se preocupar em cortar. Lembro que o vento ainda bagunçava seu cabelo naquela época.
Você descobre que está ficando calvo aos 23 anos.
Você se sente derrotado mais uma vez. Se sente um cachorro morto que é chutado e pisoteado. O ódio te corrói por dentro, a frustração te deprime. Você sente o vazio familiar no peito. "Lá vem ela de novo"...
Você escreve um texto tristinho no facebook pra ganhar curtidas e se sentir melhor. Mas você sabe que é paliativo. Não há cura aqui.
Isso não vai acabar bem.
Você cai na cama de bruços. Não quer encarar mais ninguém. Adormece no final da tarde e acorda quando já está tudo escuro e não sabe mais que dia é. Levanta pra ir ao banheiro, desorientado. Olha o reflexo da luz da rua na porta de alumínio da cozinha. Se pergunta até quando isso vai durar. Porque isso cansa e é torturante e você não aguenta mais.
Seu cabelo não tem mais jeito. Em alguns anos terá um buraco completo no topo de sua cabeça. Vai ser horrível. Você já aparenta ser mais velho do que é, e vai parecer mais velho ainda. Se prepara. Segura mais esse tiro na sua autoestima.
A vontade de parar volta. Ela sempre vai voltar. É a sensação que se tem. É recorrente, repetitivo, corriqueiro. É cansativo pra caralho. É devastador pra caralho. Puta merda, como é cansativo! Você não tem mais jeito.
Sua vida não tem mais jeito.
Toda esta merda aqui, não tem mais jeito.

4.8.16

Em defesa do funk

Nunca pensei que faria isso, mas este texto é em defesa do funk.
Sim, o gênero musical que todo mundo ama odiar.
Acontece, acho. O tempo passa, a gente muda. Muito do que fazia sentido passa a não fazer mais.
Fico até feliz de ter mudado minha opinião sobre o assunto. Encaro isso como uma evolução. Uma prova de que ainda coloco minhas opiniões em constante questionamento. Te convido a fazer o mesmo.
Antes de tudo, quero deixar claro que, com este texto, não pretendo discutir gosto musical. Gosto, realmente, não dá pra se discutir. Se funk não faz seu tipo, ok. O texto não é para você.
O que pretendo mostrar é o porquê do ódio, desdém e culpabilidade que o funk costuma receber, estarem errados e não fazerem o menor sentido.
Também queria dizer antes de começar que, não sou "funkeiro", "roqueiro", "pagodeiro" nem nada disso. Pois usar títulos limitadores para rotular meu gosto musical não condiz mais com minha idade.
Sério, chega, né?
Hoje sou só um cara que gosta de (algumas) músicas. Embora me identifique mais com o rock, não me prendo só a ele. Já ouvi músicas boas de quase todos os gêneros.
Pronto. Agora vou tentar refutar os principais ataques e acusações que mais vejo usarem para diminuir esse tipo de música. Não digo que vou conseguir, mas vou tentar.
Você pode comentar os pontos que discordar para termos um debate amigável do assunto.
Ok? Vamos lá:
"Ah, funk não é música!"
Mas o que é música? Quando ruídos e barulhos passam a ser considerados música?
Quando é só barulho?
Quando é música?
Dica: música não é só aquilo que você gosta.
Pense na forma mais rudimentar e primal de música. Esqueça os arranjos e melodias complexas. Esqueça as variedades de instrumentos musicais. Não pense em letras de composição elaborada, deixe a poesia de lado. Não precisamos de vocal ou coro bem afinado. Não precisamos de vozes.
Isso.
Agora regrida mais um pouco. Se encontrarmos a fronteira entre o mero som inexpressivo e a forma mais simples de música, talvez podemos definir o que é música e o que não é.
E se for algo tribal? Indígena, quem sabe? Pense em mãos nuas, ritmadas, batendo tambores de pele animal. Percussão. Ainda é música, não é?
Agora, vamos regredir mais um pouquinho. Tire o ritmo das mãos percussionistas. Não há mais ordem na música tribal. São só batidas inexpressivas em tambores. Só barulho.
Parece que encontramos a fronteira. Encontramos a resposta. O ritmo é a chave. Coloque ritmo em batidas aleatórias e elas se tornam música.
Convenhamos: muitos funks carecem de melodia e letras mais complexas. Mas ritmo, eles têm. Funk é música, sim. Um estilo mais simples de música. Se comparado com canções mais complexas, talvez seja algo mais próximo da fronteira com o barulho mas, ainda, música.
"Ah, mas funk nem letra tem. Se tem, são sem criatividade. Só é preciso uma frase ou palavra pra compor uma letra de funk, que merda!"
Muita música erudita não têm letra. Digo, não há um só rastro de voz humana durante toda a composição. Há música instrumental em vários gêneros e muita gente gosta. A maior parte de funks que já ouvi, tinham vocais, sim. E é verdade quanto a simplicidade da maioria das letras.
Mas e daí?
Você já ouviu um artista internacional do qual não entendeu nada do que ele cantava, mas, mesmo assim, curtiu seu som?
E quando foi procurar pela letra traduzida na internet, viu que não era grande coisa?
Acho que pelo fato de pessoas gostarem de canções instrumentais e músicas estrangeiras das quais não entendem o que está sendo cantado, é seguro afirmar que, letras não definem a qualidade de uma música. Elas não são tão importantes.
Elas podem, no máximo, melhorar uma música que já é boa. Mas nunca gostamos de uma música, exclusivamente, por causa de sua letra.
Se você gosta só da letra de uma música, você não gosta da música, e sim da poesia inserida nela.
O que nos faz gostar de uma música é toda sua parte rítmica, melódica e harmônica. Instrumental ou vocal. Não é o que eles cantam, e sim como cantam e como tocam.
Podemos concluir então, que: sim, muitas letras de funk são simplistas, e pouco elaboradas. Mas não importa, já que não é a letra que define se a música é boa ou não.
Mesmo assim, você ainda pode não ter concordado quanto às letras de funk. Você ainda as acha obscenas e de muito mal gosto. Isso nos leva ao próximo tópico.
"Ah, mas a letra de funk é uma baixaria. Só tem putaria e palavrão!"
Mais uma vez concordo parcialmente com você. Não, não são todos os funks que falam de sexo. Sim, muitos deles falam e de uma maneira bem direta e explícita.
Mais uma vez: e daí?
Por que isso é ruim?
Por que isso é motivo de ódio e desprezo?
Possivelmente estamos entrando na área do gosto pessoal agora. Ok, sexo é um tabu, e muita gente foi condicionada a manter esse tabu pra sempre.
Ser conservador e purista sobre sexo é válido. Não é uma opinião que compartilho, mas esta discussão não cabe aqui.
Você está na companhia de outras pessoas. Um carro passa lentamente com alto falantes explodindo pornografia sonora. Muitos ficam constrangidos, e é perfeitamente normal.
O que quero dizer é que, o constrangimento que muitos sentem pelo assunto é compreensível, mas não faz sentido criticar um estilo musical por seu conteúdo sexual.
Sexo é um tema dentre outros. Muitas canções falam de amor, felicidade, tristeza, política, religião; por que não sexo?
E por que não de uma forma objetiva e clara? Só porque te constrange?
Não é elegante e artístico demais pra você?
Toda música deve tratar seu tema com elegância?
Eu não acho. E se você acha, bem, entramos de novo na área do gosto pessoal. Não posso mais fazer nada.
A questão é: por que não ser mais democrático com a música?
"Ah, mas o funk é machista. Ele rebaixa a mulher e a trata como simples objeto sexual!"
Não acho que isso seja totalmente verdade. Pode ser que alguns funks sejam machistas mesmo, mas não todos.
Generalizar é o erro aqui. Culpar um todo por causa de poucos é errado. Podemos dizer que o sertanejo faz apologia às drogas. No caso, o álcool. Estaríamos errados outra vez. Nem toda música sertaneja fala de bebida.
Sim, pode haver funk machista também. Em nenhum momento disse que era um gênero musical perfeito.
E se encararmos o funk não como machista, mas como uma música sexualmente liberta da qual até as mulheres podem se expressar?
Também devemos lembrar que há mulheres no funk. E elas cantam sobre sexo. O que penso é que, até os funks considerados machistas, são machistas por quais motivos?
O que você chama de rebaixar a mulher e tratá-la como objeto sexual?
Chamá-la de "vadia", "cachorra", e etc? Concordo se tratar de um linguajar machista e agressivo. Mas no sexo, parece que as coisas mudam.
Já ouvi relatos de homens e mulheres que gostam de ser xingados; de baterem e apanharem durante a transa.
Sei que parece estranho, mas é verdade. Coisas que consideraríamos agressivas e desrespeitosas no dia a dia, vira objeto de desejo e excitação na cama.
Alguns homens e mulheres gostam de dominar. Outros homens e mulheres gostam de ser dominados.
Variavelmente, homens e mulheres gostam de ser tratados como objeto sexual na hora certa.
E se o funk não for machista e baixo, mas sim, o único estilo musical que expressa, sem filtro ou censura, nossos pensamentos mais sujos e pervertidos sobre sexo?
Por que isso seria ruim?
É normal, libertador e completamente válido.
O que realmente falta, são mais representantes femininas no gênero. Para igualar as coisas.
"Ah, mas o funk incita a sexualidade precoce em crianças!"
Primeiro: esse argumento é muito similar àquele que diz que vídeo games e filmes violentos podem te transformar em um assassino. Assisto filmes e jogo vídeo games violentos desde criança; nunca matei ninguém.
Segundo: mesmo se eu estiver errado, afinal de contas, crianças (pré-adolescentes) estão na puberdade - ou seja - descobertas e curiosidades sobre sexo podem ser somadas ao teor sexual da música; a amiguinha ou o amiguinho do lado também podem estar afim e pronto: pai e mãe aos 14.
Mesmo assim, acho que o funk não merece a culpa.
Se seu filho, menor de idade, assistir vídeos pornográficos, faz sentido culparmos a indústria do pornô?
Como seu filho teve acesso à pornografia? Quem apresentou o vídeo a ele?
É a mesma coisa com o funk. O cara que leva esse tipo de música para menores de idade, é o culpado. O babaca que liga o alto falante do carro pra dar uma volta no bairro, é o culpado. O pai irresponsável que não sabe onde seu filho pré-adolescente anda, é o culpado.
E isso se eu estiver errado no meu primeiro argumento.
Então, só recapitulando:
- Funk é música, sim. Pois ele, ao menos, contém ritmo e ritmo, aparentemente, é o mínimo necessário numa música.
- As letras de funk são simples sim e isso não importa. Não é letra que define qualidade de música.
- As letras de funk são vulgares, sim. Qual o mal nisso?
- As letras de funk não são machistas, (algumas talvez) elas só são sexualmente livres.
- O funk não incita sexualidade em crianças. Se incita, ele é o menos culpado da história.
Bem, é isso.
Espero ter conseguido mostrar a alguém que o funk não merece todo esse desprezo e culpa.
Espero, pelo menos, ter deixado alguém em dúvida e disposto a repensar suas opiniões.

27.7.16

Minha coragem

Minha coragem tem vontade própria.
Geralmente, menos vontade que eu. Vontade tenho até demais. Mas vontade sem coragem é só... vontade. E só vontade não é nada. A não ser que essa vontade seja da minha coragem. Aí já é alguma coisa.
Minha coragem é desistente. Ela quase nunca está por perto e decide sozinha quando vir. Ela sai e me deixa nú na frente de todos. Ela trava minhas cordas vocais e desvia minha atenção dos olhos das pessoas.
Ela me envergonha.
E me ajuda a envergonhar os outros.
Minha coragem é viva. Mais viva que eu. Ela sai e vai viver, enquanto eu fico em casa procurando-a. Como se já não fosse o bastante, ela rouba um pouco de vida que ainda tenho e me deixa querendo morrer.
Minha coragem é faixa preta em jiu-jitsu. Ela me leva ao chão e me imobiliza. Uma chave de braço, chave de perna, de cabeça. Um molho inteiro de chaves. Ela realmente sabe como me deixar imóvel.
Assim continuo a existir sem saber se ela fica e me ajuda um dia.
Assim me pego a refletir se é coragem que me falta ou me sobra em covardia.

23.7.16

Felicidade

Felicidade foi sempre um tema recorrente na minha vida. Não por abundância dela, mas por ausência mesmo.
Felicidade foi sempre essa coisa, essa...coisa, pra mim.
Essa coisa misteriosa. Essa coisa rodeada de dúvidas, sempre oculta e enigmática.
Essa coisa que você sempre ouve todo mundo falar bem e não tem muita certeza se já sentiu.
Então se convence de que tem que experimentar um pouquinho dela também. Todo mundo fala tão bem, não pode ser ruim.
Você sai em uma busca eterna.
Descobre que para encontrá-la deve, primeiro, saber do que se trata.
Você volta, recomeça do zero e vive tentando entender.
Você cresce e percebe que a tristeza é tratada como crime, ou motivo de vergonha. E começa a questionar a honestidade da felicidade alheia.
Felicidade é melhor que tristeza, é verdade. Mas, tristeza, indiferença, neutralidade são tão mais constantes em nossas vidas, que você começa a duvidar do número de pessoas que se dizem felizes o tempo todo.
Você cresce e percebe que esteve feliz muitas vezes na vida. E ainda fica, às vezes. Mas não é algo constante ou frequente.
Hoje, não acredito que se possa SER feliz. Acredito que se possa ESTAR feliz. Porque felicidade não é uma casa que você constrói, se estabelece e vive lá. Não é permanente. Não dura pra sempre.
Felicidade tá mais pra um hotel onde você pernoita e vai embora. Exceto que felicidade não costuma pernoitar. E não é você que vai embora dela, ela que vai embora de você.
Ela é fugaz, porém, repetitiva.
Ela vai embora para depois voltar, pra depois ir embora de novo. Pra voltar mais uma vez. Tudo em intervalos variados de tempo.
É isto que é a felicidade pra mim: momentos de prazer e bem estar que vêm e vão divididos em diferentes intervalos de tempo. Não é um objetivo longínquo e definitivo. São momentos que estão sempre por aí.
Se tem uma coisa que aprendi sobre felicidade é que ela não é contínua. Ela sempre acaba. Ninguém está sempre feliz, assim como ninguém está sempre triste. Se você está sempre triste, procure um médico. Se está sempre feliz, você deve ser muito irritante. E procure um médico também.
Se eu estiver certo, e a felicidade funcionar assim mesmo, então suponho que o melhor jeito de se viver é passando por o maior número possível de momentos felizes.
Mas há como provocar felicidade?
Sim e não. Felicidade varia entre momentos que acontecem por acaso e momentos que podem ser influenciados por você. Não se tem total domínio dela.
A parte da felicidade que pode ser provocada requer movimento, atitude. E nem assim é garantida. Mas é o máximo que se pode fazer. Abrir janelas para momentos felizes surgirem, ou não.
Ainda posso estar errado em alguma coisa.
São as melhores conclusões que pude tirar depois de anos de observação. Mas do alto dos meus 23 anos, não posso garantir nada.

18.7.16

Baque

Foi um baque.
Pulou para dentro do meu sono como um tiro, e me acordou. O baque abafado foi seguido de um burburinho.
Que horas são?
6:40 da manhã.
Faltam 20 minutos para o celular despertar. Eu precisava estar dormindo para ser acordado por ele.
O burburinho da rua aumenta e agora traz junto a si gritos de horror e lamentações. É melhor alguém ter morrido para me fazer acordar 20 minutos mais cedo!
Olho pela janela. Três andares abaixo um aglomerado de gente curiosa com alguma coisa vai se formando. Não consigo ver o que é. Já que estou acordado, posso usar esses 20 minutos que me restam para dar uma olhada.
Escondo a samba canção com uma calça e pego o elevador. A portaria está vazia e a rua cheia.
19 minutos para ser curioso.
Dirijo-me ao centro da comoção. O burburinho tá na minha cara, agora. O choro dolorido de uma senhora se destaca. Parece sério.
Aproximo-me da roda de transeuntes, vejo finalmente. De primeira vista fiquei confuso. Por alguns segundos perguntei-me o que era aquilo até conseguir distinguir a imagem.
16 minutos.
E ali, no meio da roda de transeuntes, jaz outra roda rubra rosada e espatifada no chão. Como se um tomate gigante tivesse sido esmagado por deus, ali, na frente do meu prédio. Em cima da mancha vermelha e rosada, o corpo nú de André, um jovem vizinho de porta. O reconheci pelas tatuagens no corpo. Se não fossem por elas seria impossível. Não havia mais cabeça; bem, havia um pouco, mas, seu rosto, sem dúvida, não existia mais. Seu corpo estava amassado contra o asfalto. Por um momento lembrei-me dos desenhos animados que via quando criança, quando algum personagem passava por cima do outro com um rolo compressor. Estava murcho, não parecia o André, mas sim uma roupa de André amarrotada. Uma pele prensada contra gordura e sangue.
Pergunto o que aconteceu para alguém ao meu lado.
- Ouvi dizer que o rapaz estava triste com o fim de relacionamento. Há dias não comia e não saía de casa. Parece que ele pulou do terraço, mergulhou de cabeça direto no chão. Que horror.
Vantagens de ter vizinhos fofoqueiros. Agora que ele disse, vejo onde a cabeça de André foi parar: a dois metros do corpo, mais à frente. Também a uns três metros mais para a esquerda e mais em vários outros pontos da rua. Tinha crânio e cérebro pra tudo quanto é canto. Que bagunça.
Soube que ele namorava uma moça problemática. É tudo que sei. Pobre rapaz. No auge dos seus dezoito, dezenove anos. Não o conhecia bem. Via ele de relance de vez em quando. Um bom dia, boa noite, um aceno de cabeça. Só.
9 minutos.
Mas parecia ser um moleque legal. Vivia brigando com a mãe. Ela não aceitava o namoro, acho. Ela chora e grita de dor do outro lado da roda de curiosos, onde é consolada.
- Meu deus. É isso o que um coração partido pode fazer... - diz uma senhora.
- Se isso é o que um coração partido pode fazer, eu não sei. Mas sei o que uma cabeça estourada no asfalto pode fazer: atrasar a vida dos outros.
Fala um velho ao meu lado. Ele olha pra mim:
- Você sabe do que estou falando, não é, amigo? Semana passada outro coitado se matou na avenida principal. Pulou de um edifício maior bem no horário de pico. Parou o trânsito. Levei o dobro de tempo pra chegar em casa.
Sei do que o velho fala. Estava no trânsito também. Voltando para casa. O cara não podia ter se matado mais cedo, ou um pouquinho mais tarde. Não, tinha que ser no horário mais movimentado do dia. Nunca pensei que um suicida saltador de edifícios poderia parar o trânsito assim.
- Foi um estrago. Quando passei pelo morto no trânsito, você tinha que ver. Não era um presunto, era carne moída, irmão! Tiveram que catar o cara com uma pá. Rasparam o maluco do asfalto. Esse moleque aí não foi nada. Já vi coisa pior.
Por um momento me senti num concurso de suicídios. E André não tinha vencido como a morte mais violenta.
Então outro baque me desperta e me faz notar algo assustador: não estou chocado com o acontecido. Nem esse na porta de casa, nem o de semana passada na avenida. Bem, fiquei surpreso na hora que reconheci André, pois o conhecia de vista. Mas não estou chocado. Horrorizado. Triste. Só curioso.
É assustador.
Pessoas puxam seus smartphones para tirarem fotos e filmarem o que restou de André. A internet anda meio chata, ela implora por um vídeo de um cadáver murcho e sem cabeça.
Muito assustador.
Li uma vez que a vida na cidade anestesia os homens. Sou testemunha disso agora. Noticiários de desgraça, banalização da violência. Do grotesco. É só mais uma terça-feira pra gente.
Um morre hoje, outro amanhã. Acontece todo dia, por isso é normal. Não devia ser. Aos poucos perdemos a empatia. Perdemos a humanidade. Vai ficando mais e mais normal. Imagi-
7 horas.
O celular desperta no meu bolso. Nossa, quase me esqueci. Tenho que subir correndo e me arrumar. Se chego no escritório atrasado meu chefe me joga lá de cima.

8.7.16

Tudo bem?

"Tudo bem?"
"Como vai?"
Não sei desde quando sinto essa dúvida em responder tal pergunta. Uma rápida indecisão. Uma mini reflexão comprimida entre o momento da pergunta e a minha resposta.
"É... Tudo bem..."
Nem sempre é verdade, minha resposta. Às vezes é. Às vezes é pura mentira. Tem vezes que são os dois ao mesmo tempo.
Com o tempo essa dúvida crescia. A cada "e aí, tudo bem?", ela ficava mais incômoda. Um ponto de interrogação gigante cravado no meu crânio aumentando de tamanho e alargando o buraco na minha cabeça. Isso é bem incômodo.
Fico pensando o que essas pessoas querem ouvir de resposta. Essa gente educada, me torturando com sua gentileza e cordialidade.
"Não tá TUDO bem, obviamente. Mas OK... Não, não tá tudo bem. Nada tá bem. A vida tá uma merda na verdade. Mas não se preocupe, ignore minha infelicidade e viva sua vida. Duvido que esteja TUDO bem com você também... "
Ou...
"Tá TUDO bem, sim. Cara, tá TUDO ótimo. Minha vida é perfeita. Sem nenhum problema a ser resolvido. Preocupação zero. Tudo excelente. Amo meu emprego. Tenho dinheiro de sobra. Todo mundo me ama. Até porque sou muito foda. Tão foda que dirijo meu carro importado com um pé só, e um dos olhos fechados..."
Acho que é mais fácil só dizer que tô bem.
Nem sei se elas esperam mesmo uma resposta. Talvez seja só um ato de educação que ficou automático e perdeu o sentido. Talvez seja um modo de quebrar o gelo, começar uma conversa. Tipo "e esse tempo, hein? Será que chove?". Perguntas que não precisam de respostas, só servem de ponte para ligar duas partes de uma conversa.
Algumas pessoas parecem não se importar com uma resposta.
Não parece importante no fim das contas.
Porém é aconselhável que responda. O silêncio é perturbador pra eles. É interpretado como má educação ou arrogância. Nunca como timidez ou uma incerteza imensa do que responder.
Quem sabe esta seja a mentira mais dita e aceita por nós.

4.7.16

Sobre a beleza

Venho aqui compartilhar com você o que aprendi sobre a beleza: ela é realmente relativa. Subjetiva demais para julgar como algo absoluto. Algo muito mais pessoal do que generalizado. Não é como uma cor. O vermelho é vermelho pra todo mundo, certo? O que for bonito pra você, pode não ser bonito pra mim e vice versa. Aprendi que defeitos são, na verdade, características. Dentes tortos, partes do corpo de tamanho desproporcionais, uma mancha ali, uma pinta aqui - são características que nos fazem únicos e diversificados.
Aprendi que na ausência da beleza estética e superficial, o conhecer, o conversar, o ficar íntimo pode nos fazer enxergar beleza onde não se via. Desse modo a feiúra se transforma numa cegueira causada pela ignorância. Uma venda removível. Um pré julgamento. Algo mais nosso do que dos outros. Desse modo a beleza física parece dispensável, já que, a verdadeira beleza, aparentemente, encontra-se dentro de cada ser.
Mas no final não importa, né?
A mídia, revistas, outdoors e filmes já fizeram um bom trabalho de nos convencer do que pode ser bonito ou não. Veja amigo, não há muita importância no que aprendi. Já estamos infectados. Tarde demais. A lavagem cerebral foi um sucesso.
"Beleza não é tudo".
"A beleza interior é o que importa".
Não interessa!
Você vai continuar jugando pessoas pela aparência. Vai continuar rindo delas pelas costas. Classificando-as com seus amigos ou amigas. Vai ser muito divertido, como sempre foi!
Você, abençoado com o padrão da beleza instituída permanecerá sempre à frente. Na vida social, afetiva e sexual. Não se preocupe, a vantagem ainda é sua. Sim, conhecer pessoas, conversar com elas, dá muito trabalho. O visual é imediato, um atalho para se conseguir coisas. O agradável aos olhos vai continuar sendo o preferível. O "feio" é descartado logo.
E adivinha? Você, amaldiçoado de baixa autoestima, vai continuar se achando feio. Sinto muito. Vai continuar tentando se adaptar aos padrões para se sentir melhor. Mudando o cabelo, entrando em forma, seguindo a nova tendência do verão, se maquiando, escondendo suas características próprias, photoshopando-as.
É subconsciente. Mesmo sabendo que a beleza física não é o mais importante, mesmo sabendo que somos manipulados, continuamos exaltando e invejando os belos - enquanto ignoramos e diminuímos os feios.
E essa situação não é bonita nem por dentro.

29.6.16

Mudos e estáticos

Ficamos mudos e estáticos. Esperando pra ver quem vai cair primeiro. O primeiro a escorregar. O primeiro a pagar mico. O primeiro a dizer uma coisinha errada. E quando finalmente acontece, diminuímos a pessoa. Humilhamos ela enquanto nos gabamos de nossa perfeição, beleza e civilidade.

O medo é um senhor de escravos. Os escravos somos nós. O medo de falar nos tornou mudos. O medo de errar nos fez estáticos. Deste modo, seguimos calados e amputados tentando não pisar no pé de ninguém. Tentando não ser indelicados. Não ser o estorvo na vida do amiguinho.

 Assim vivemos, irmãos e irmãs, de mãos dadas, em formação ciranda cirandinha, girando sobre um chão ensaboado. Quem cair é expulso da brincadeira. Rejeitado do nosso círculo perfeito. Ele volta para casa e tira seu disfarce de humano social. Liberta-se de seus medos e pode ser ele mesmo de novo.

Já que a vida social é um teatro onde interpretamos papeis uns para os outros sem sair do personagem; a perfeição, beleza e civilidade são meros adereços. Servem apenas para bom julgamento do olho alheio. Não fazem parte da nossa natureza. A beleza é relativa, não uma única grande verdade; perfeição é ilusão e civilidade, bem, é um vago contrato social.

Nos arrancam nossas personalidades e recusam o diferente - o autêntico.

Espero um dia conseguir ser eu mesmo.

23.6.16

Vida e tempo

Ninguém me disse que não daria para voltar atrás.
É a sensação que dá. A sensação de ter aprendido coisas tarde demais. A sensação que a vida tem um manual que não li. A sensação que a vida deveria ter um manual.
A vida e o tempo formam um casal lindo.
E cruel.
Desumanamente cruel. imensamente cruel - isso é muito cruel!
Com a vida você só tem uma chance e a iniciativa deve vir de você. Se você não age, ela não te dá nada. Igual à algumas mulheres infectadas com o pensamento machista de "só o homem deve ter atitude". Injusto, cruel, tipo a vida.
Com o tempo você também só tem uma chance e deve ser rápido. Ele segue em linha reta numa só direção sem nunca dar meia volta. Como uma rua de mão única, sem semáforo, pedestres e motoristas infratores. Ele não te espera, ele não para. Ele não perdoa. Seu funcionamento é implacável, sua punição perpétua. Não te deixa voltar atrás para corrigir um erro. Pode-se, no máximo, se redimir no futuro, mas nunca apagar um erro.
Já me disseram que viver é desenhar sem borracha. Não se pode apagar seus erros, só se pode tentar fazer melhor adiante.
Você erra, aprende, se redimi depois.
Aí é que está ! Errar não é só humano, mas fundamental. O erro é uma experiência necessária para o aprendizado. Seu erro pode ser grave, fatal, traumático. Pra você e para outras pessoas. Mas é importante. No mínimo bem vindo. Na hora pode ser péssimo, mas depois é experiência adquirida. Uma área conhecida. O famoso "sei como é".
Eis o manual da vida. Você o escreve ao decorrer do tempo.
Entre derrotas e redenções constrói-se sapiência.
Ninguém me disse que não daria para voltar atrás. Aprendemos sozinhos mesmo.
Mesmo nos maiores deslizes, os que custam amizades, oportunidades de ouro, maiores arrependimentos de nossas vidas; mesmo nesses deslizes haverá o que se aprender.
Poderá ser traumático e doloroso. É o tempo com a vida. Casal tão rígido e cruel.

17.6.16

Expectativa

Diz-se que a expectativa é a maior traiçoeira dentre todas as coisas traiçoeiras. Ela lhe oferece a mão e te ajuda a subir na montanha, só pra depois te empurrar lá de cima.
A expectativa é uma puta.
Apunhaladora de costas, destruidora de corações. Ela te engana. Ela é o cheque sem fundo. O negócio da China ao contrário.
Ela te ilude, brinca com seus sentimentos. Te dá aquela rápida sensação boa de antecipação; algo melhor à vir, então, te desaponta. Ela é a chuva do seu rolê. O "só te vejo como amigo" da sua paquera. A ejaculação precoce da sua transa - ou seria a disfunção erétil?
Também ouvi que deve-se manter sua expectativa baixa se quiser evitar uma merda futura. Tipo sua taxa de colesterol, sabe? Se não quer ser empurrado da montanha, não suba nela. Não planeje rolês se não quiser se molhar na chuva, não paquere se não quiser ganhar um "não", não faça sexo se... bem, você me entendeu.
Vê o problema?
Não somos capazes de mantê-la baixa. Nem se quisermos. Nem se estivermos conscientes de que elevar nossas expectativas é aumentar as possibilidades de decepção. Quanto mais alto maior o tombo. Sabemos disso, mas subimos à estratosfera. É automático, instintivo, subconsciente. "Eu sabia que ia dar merda", então por que tamanha frustração? Talvez porque sonhar é bom. Antecipar felicidade e prazer é bom. Adoramos a ideia de que, em breve, daqui à pouquinho, vamos nos sentir bem de novo. E não podemos não pensar nisso. Não podemos ignorar. Está perto, logo ali. Quase chegando. Vai ser agora... e nada.
Aí caímos. A expectativa nos trai, e a realidade soca forte a nossa cara. A decepção, o "se foder", é inerente ao ser humano. Não há escapatória.
Mesmo tentando evitá-la, ela sempre estará à espreita, e no fundo, gostamos disso. Queremos ela por perto mesmo sabendo que, a qualquer momento, ela poderá nos apunhalar de novo, de novo e de novo. Assim fazemos as pazes, e nos dirigimos para a próxima traição.

14.6.16

Você espera

O sentimento de impotência. O nó na garganta. O aperto no peito. Quando sua felicidade depende de uma visualização de conversa no facebook, saiba que sua vida é desprezível. Uma vida triste e cheia de angústia. Essa é sua vida.
Quando você deseja tentar falar de novo: uma frase reescrita, um pedido reinterpretado, um desabafo. Quem sabe uma resposta, enfim. Mas aí o sentimento de vergonha, o receio, a cautela. O medo de piorar a situação. Estragar o estragado. Você pisa no freio; pensa duas vezes. Três vezes. Você não quer isso. Não quer ser o inconveniente. O chato. Não quer perturbar o sossego de ninguém. Além disso, é ela que não visualiza. Não dá pra fazer muita coisa.
Então você volta à sala de espera. Uma longa e dolorida espera. Tudo por uma visualização de conversa. Uma demonstração de interesse. Interesse real. Nunca se sabe. Não dá pra ver daqui. Não dá pra sentir a essa distância. Não dá pra ter certeza. Um emoji, uma carinha feliz não substituem um olhar. Num olhar você vê. Vê se ela vai voltar amanhã. Vê se ela quer conversar mesmo. Assim teria certeza. Mas daqui não se vê. Não desta distância.
Você espera.
É paciente. Paciente pra caralho. Admirável da sua parte. Talvez um dia ganhe sua resposta. Talvez um dia você saiba afinal. Talvez um dia a resposta venha.
Talvez.
A esperança é a última que morre. A paciência é a primeira.
Por que faz isso? Dê uma resposta. Uma só. Positiva ou negativa, tanto faz, mas me dê atenção. Sou doente, preciso desse remédio. Preciso da conversa. Preciso de você. Ou me mate logo. Não me deixe mais esperar. Só me mate mais uma vez! Já morri antes. Sei qual é a sensação. Mas visualize. Visualize e me dê a resposta.
Como ousa chamar-se "rede social", sua sala virtual de tortura emocional!?
Como ousa? Já não basta ignorar ao outro do lado de fora da sala, vocês se ignoram aqui dentro também?
Ou é só você?
Você é chato a esse ponto?
Como proceder? Como viver assim?
Como se mata seu pior inimigo, quando seu pior inimigo é você mesmo?
Você espera.
É tudo que pode fazer. Pode esperar ou desistir. Desistir é assinar seu comprovante de fracasso, outra vez. Desistir é deixá-la ir - se ela já não foi.
Mas você não quer isso. Você não quer mais saudade, mais ansiedade, mais espera.
Mas você espera.

9.6.16

Cada viagem, um show

Cada viagem, um show

Nessa eterna turnê poluída e barulhenta, aglomerada e calorosa, vou e volto continuamente, à deriva na vida.

Sobre o trilho de asfalto seco, entre uma parada e outra, me encontro perdido em olhares e viajando em pensamentos. Conhecendo pessoas, me despedindo delas, nos apertando em corpos estranhos. Do crepúsculo acinzentado à aurora morta de mais um dia de shows.

Shows que quebram a concentração, incomodam a audição, mas nos afunda em distração. De repente é assim: o fiel berra sua crença, o estressado se estressa, o ambulante vende seu peixe. A ambulância passa do lado de fora da nossa prisão sobre rodas, e não podemos fazer nada a não ser nos calar e consentir o embaraço.

Indo e vindo é um show. De horrores?

Você que sabe.

Nessa eterna turnê úmida e silenciosa, solitária e fria, vou e volto continuamente, à deriva na vida.

Sobre o trilho de asfalto molhado, entre uma parada e outra, me encontro perdido em olhares e viajando em pensamentos. Conhecendo pessoas, me despedindo delas, nos apertando em corpos estranhos. Do crepúsculo acinzentado à aurora morta de mais um dia de shows.

E blá, blá,blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá ,blá, blá, blá...

18.5.16

Perfil fake

Você aí, que se esconde atrás da foto de perfil. Você que posta texto reflexivo e de boas vibrações acompanhado de uma foto do seu melhor ângulo. Que troca curtida, segue de volta, o que você quer? Quer fazer amizades? Ou só ser avaliado e aprovado pelos outros? Se quer apenas ser avaliado não mostre só seu lado bonito, mostre seu outro lado também. Quem você realmente é? Aposto que um ser humano muito mais complexo do que uma foto e uma frase bonita. Com defeitos, medos e receios. Você gosta de si mesmo, ou só finge gostar para que os outros te aceitem?  Você quer fazer amizades? Então por que não fala com seus seguidores/amigos? Você comenta nos posts deles para ganhar atenção mais tarde, quando eles comentarem os seus? Você finge se importar ou se importa mesmo? As redes sociais são um ponto de encontro para pessoas se conhecerem, conversarem e compartilhar coisas interessantes? Ou as redes sociais são um grande ponto de encontro de egocêntricos e inseguros massageadores de ego? Sendo um ou outro, bem, não posso culpar ninguém. Todo mundo quer ser amado, aprovado, elogiado. Todo mundo quer atenção. Mas fiquei sabendo que amor, aprovação, elogios e atenção são melhores quando dados pessoalmente.

Ei, você, que se esconde atrás da sua foto de perfil, já experimentou conhecer alguém novo hoje? Fora da internet, digo. Fazer de um estranho não mais estranho. Compartilhar o mesmo ar, o mesmo metro quadrado, talvez. Poder tocar na mão, abraçar, beijar. Ouvir o som da voz da pessoa, a voz ao vivo, não gravada. Já tentou se expor, se abrir para alguém? Mostrar o seu ângulo menos favorito para a pessoa? Ver quem merece ou não sua amizade verdadeira? Dica: os que merecem aceitam você sem Photoshop, filtro ou ângulo de foto. Deixem só eles nas suas redes sociais para não ter mais que se esconder em poses forçadas na hora da foto. Mas parece que muitos evitam conhecer gente nova. Por que todo mundo se ignora no ponto de ônibus, na sala de aula, no shopping? Eu até entendo, o medo, o receio de falar com um desconhecido. O sentimento de que aquela pessoa não está tão afim de falar. Mas vale a pena tentar. Isso é um recado pra você e pra mim.

26.4.16

A infeliz ironia da minha liberdade

Sou um grande fã da liberdade individual.

A liberdade que temos de fazer o que quisermos, como quisermos, quando quisermos; sem dar satisfação a ninguém, nem prejudicar a vida alheia. Ela é preciosíssima e fundamental para uma vida feliz e bem aproveitada.

Se a liberdade individual fosse uma pessoa, eu a pediria em casamento. Se fosse uma entidade, eu a adoraria como meu deus pessoal. Sério, como sou fã da liberdade individual

Assim, naturalmente, torno-me um grande inimigo de suas opositoras: censura, autoritarismo, dogmatismo religioso e comprometimentos sérios.

Com comprometimentos sérios, me refiro àquelas responsabilidades que mudam sua vida drasticamente, muitas vezes para sempre. Como casar-se ou ter filhos.

Pode parecer egoísta da minha parte, mas não é isso. Sou até bem altruísta. Me importo com as pessoas. Tento escutar, compreender e ajudar o máximo que posso. Mas gosto de estar solto, com o mínimo de responsabilidade me prendendo. Me sinto melhor assim. E você tem de se sentir melhor consigo antes de fazer o melhor para os outros. A liberdade é essencial para mim. Preciso dela para viver bem.

Me irrita muito ver pessoas terem sua liberdade cerceada por outras pessoas ou instituições. O que me frustra também, é quando se tem essa liberdade e não se sabe usá-la plenamente.

Hoje ainda me sinto preso dentro de mim. Enclausurado nos meus pensamentos. Desejos e vontades me queimam por dentro e, simplesmente, não sou capaz de colocá-los pra fora. Sei que sou o único ser que pode me salvar. E mesmo assim, sinto-me perdido. Muitas vezes não sei o que fazer e quando sei, não sei como fazer. É emocionalmente desgastante e desesperador viver nesta condição de ser o único carcereiro de sua própria cela.

Não sei usar minha liberdade plenamente e isso me preocupa. Porque sei que a vida é curta, e cada segundo não vivendo é um segundo morrendo. Já perdi inúmeras oportunidades na vida. Oportunidades de trabalho e de conhecer gente interessante. Perdi minha adolescência. Perdi muito tempo com essa inaptidão social, e temo perder mais.

Me frustra profundamente ver pessoas teoricamente menos livres que eu, conseguir aproveitar a vida com tão mais intensidade. Por exemplo, meus primos. Sou um pouco mais velho que a maioria deles e, a impressão que sempre tenho, é de que eles já viveram mais do que eu. Isso, por si só, já me deixa mal. O que me ajuda a deixar pior, é saber que todos eles são religiosos e eu não.

Não estou dizendo que religiosos deviam viver e se divertir menos - ou nem um pouco.

 A religião deles, sim.

Por mim, eles estão fazendo o certo. Vivendo suas vidas, aproveitando e se divertindo. Mas é inegável dizer que o dogmatismo religioso é um freio na liberdade. E que, quando sua crença diz que todo e qualquer prazer carnal é pecaminoso, pelo menos um peso na consciência eles devem sentir.

 Mas, ainda assim, eles vivem. Em contrapartida, eu, ateu, nada religioso, sem nenhum dogma para me frear e zero preocupação com um julgamento celestial, vivo como um monge semi celibatário.

Infeliz ironia da minha liberdade.

15.4.16

A beleza da falta de sentido

"Por que estamos aqui? Qual o sentido da vida?" pergunta você, pergunta eu, pergunta o ser humano. Acho que todos nós já fizemos essas mesmas perguntas pelo menos uma vez na vida.

Para muitos é difícil seguir caminhando sem uma direção sugerida, sem um mapa. Queremos um ponto de referência, um objetivo, uma razão para viver. Um destino a se chegar. É duro, para alguns insuportável, ao menos considerar a possibilidade de estarmos aqui por acaso, sem nenhum propósito definido. Por isso, muitos se apegam desesperadamente à uma crença religiosa - à procura de respostas reconfortantes. 

Bem, não acredito em um propósito definitivo. Acredito que não há nenhum sentido na vida em que vivemos. Nenhum sentido fixo. Porque nem ao menos acredito que fomos criados por uma inteligência superior.

Não há propósito nem destino. Nada está escrito ou predeterminado.

Tudo é caos.

Uma sucessão de eventos aleatórios. Sem ordem ou planejamento. Não há uma rota correta a se navegar. Estamos todos à deriva no oceano da vida. Parece assustador? Não, espere: está tudo bem! Aceitar a casualidade da vida não é nada ruim. É, na verdade, muito melhor. É libertador!

Estarmos à deriva não significa que devemos temer as ondas ou esperar algum barco salva-vidas vir ao nosso resgate. Que tal se, ao invés disso, escolhermos uma direção no horizonte e remarmos a esmo até avistar civilização, uma ilha tropical, uma festa num iate ou até um antigo e perdido reino inexplorado; irmos até lá e ver o que acontece dali pra frente?

Digo mais: e se o sentido da vida não for algo para procurar, e sim, criar? Manufaturar pra você mesmo?

Casar-se e ter filhos, ter sucesso profissional, ficar famoso, dar a volta ao mundo, sei lá. Acredito que cabe a cada um extrair da vida o seu próprio sentido.

Ter a consciência da eventualidade das coisas é dar mais valor a elas. Viver sem um caminho fixo e abrir opções para outros caminhos.

Essa é a beleza da falta de sentido: Não estarmos amarrados a um único propósito universal, e sermos livres para escolher.

14.4.16

Sobre ser contra o casamento gay

Sério, eu até entendo você ser contra o aborto ou a liberação das drogas.
Mas ser contra os direitos LGBT é, no mínimo, ser ignorante.

Não há UM bom argumento, UM bom motivo racional para ser contra o casamento gay!

Pense: ser contra o casamento homoafetivo é ser CONTRA A IGUALDADE!

Imagine você viver em uma sociedade que te discrimina e limita seus direitos somente por você ser quem você é! Não dá pra ver o quanto isso é injusto? Ou você não se importa com os outros?

Você não precisa ser gay para apoiar o direito dos homossexuais, basta ter o mínimo de empatia pelo próximo e o mínimo de senso de justiça!

Por isso simplesmente não entendo, não posso conceber alguém que se posiciona contra tudo isso.

Portanto pense de novo. Quando alguém perguntar: "você é contra ou a favor o casamento gay?", interprete a pergunta do seguinte modo: "você é contra ou a favor de uma sociedade mais igualitária pra todos?" e se mesmo assim você se declarar contra, bem, só resta três possibilidades:

1- Você é homofóbico. Sua ignorância sobre a comunidade LGBT te impede de ser mais tolerável e compreensivo com os mesmos. Talvez você tenha medo de conhecê-los mais de perto, talvez ódio, mas ambos, medo e ódio, são irracionais e infundados, uma vez que você nunca se deu a oportunidade de conhecer um gay melhor e ver que ele também é um ser humano como você.

2- Você é muito religioso. Talvez você nem seja preconceituoso, só tem receio de contrariar sua religião. Nesse caso, recomendo que pense com a própria cabeça. Não deixe um livro antigo tomar opiniões preconceituosas pra você. Mesmo se deus existir e tratar a homossexualidade como um pecado terrível, você acha isso certo? VOCÊ, VOCÊ, com sua própria cabeça, não acha isso injusto? Não acha que contraria as máximas de "deus é justo" ou "deus é amor"?

3- Você é homofóbico e religioso. Me desculpe, mas aí não vejo esperança para você...



Texto originalmente publicado no blog Raio X Mental.