9.11.16

Desperdiçar gente

Lembro-me de ter um talento: desperdiçar pessoas.
Sempre fui ótimo nisso. É um dom que nasceu comigo e que venho cultivando há anos. Sou um autodidata na arte de desperdiçar gente.
Por toda minha vida é o que sempre fiz.
Lembro-me de me calar em conversas com colegas de escola. De recusar-me a participar das aulas de educação física.
Quando não se exercita um músculo, ele atrofia.
Lembro-me de trabalhar em uma farmácia. Me sentir deslocado com as pessoas de lá, descobrir que gostava dessas pessoas, e que não sabia demonstrar isso para elas. E de ser demitido quando estava começando a me sentir bem trabalhando lá.
Lembro-me de conhecer gente que nunca mais vi. De rejeições e desinteresses. De desculpas esfarrapadas e de falta de reciprocidade. Da falta de atenção. A impressão errada.
Ah, a impressão errada.
É por esse meio que consigo afastar as pessoas, e, por fim, desperdiçá-las.
Porque a primeira impressão é a que fica. Infelizmente. Aí vêm o silêncio constrangedor. O pré julgamento. Reputação suja. Não há segundas chances. Ninguém tem tempo pra isso.
E aí já viu, né? Ostracismo instantâneo.
É justo ser punido por não obedecer as regras do jogo, sem nem saber quais regras ou que jogo se está jogando?
Também acho que não.
Mas seguimos em frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário