5.1.19

#6 - sobre adultos não existirem

Ser adulto não era o que imaginava. Não sei bem o que imaginava, mas ser adulto sempre teve uma certa expectativa na mente de criança. Esperava perceber uma diferença. Algum tipo de transição do estado criança para o estado adulto.

Na mente de criança o adulto é o ápice da segurança e sapiência. Fico mais velho, acumulo experiência, aprendo como as coisas funcionam. Uma lição de vivência de cada vez. Com o tempo, já adulto, acumularia experiência o suficiente. Poderia resolver tudo. Ficaria tudo bem.

Ou não.

Acho que na verdade a criança quer ser adulto para fazer tudo que ela quer e não pode. Mas a mente de criança é de criança, e ela não sabe de nada.

Não, a transição não se nota. É muito fluído, na verdade. Tão fluído que você ainda acha que é criança até outra pessoa te dirigir como adulto. É como o aniversário de parente distante - você não percebe chegar até alguém te avisar. Fiquei chocado quando me chamaram de sr. ao invés de moleque. Pensei "isso é ser adulto?".

Quando se é adulto você percebe que quer ser criança. Não foi assim que imaginei. A magia vai embora e os problemas surgem. Cheguei a pensar que ser adulto era ir no banco resolver problemas. Hoje nem sei se adulto existe. Você se torna adulto, olha para outros adultos e vê crianças altas. As mesmas inseguranças, os mesmos medos, os mesmos sonhos. Adultos são crianças altas. Ainda aprendendo, ainda sem saber direito.

O "ser adulto" é um estado mais subjetivo do que eu pensava. Ser adulto não é ser grande e trabalhar. O adulto é uma  coleção de cicatrizes. E só quando se tem cicatrizes o suficiente você aprende.

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