31.3.11

Aberração negativa

Era uma vez uma garota que vivia sem viver. Problemática e sozinha, não tinha amigos, nenhuma companhia. Não tinha cabeça para os estudos, só ia a escola para não decepcionar os pais. Às vezes cuspia palavras de ódio e queria matar as pessoas. Mas então pensava bem e percebia que o mundo é grande demais para ser morto. Trancada num quarto cheio de vazio, escrevendo palavras de fúria, pensava se fazia algum sentido viver na constante angústia em que vivia. Já tentara se matar uma vez, mas era tão inútil, que nem nisso teve sucesso.

Queria voar, mas Deus negou suas asas. Sentia falta do passado quando as coisas ainda tinham cor, cheiro e gosto. Hoje em dia tudo tinha ficado sem cor, sem graça, toda a comida que mastigava tinha gosto de cinzas de cigarro. Ela tinha perdido, com o tempo, a capacidade de sentir a sinceridade das pessoas. Tudo soava falso pra ela. Com o tempo ela também resolveu revelar os seus segredos, e desde então, começou a sentir o olhar de pena e desprezo que todos a lançavam. Com o tempo ela sabia que tudo ia piorar.

Se trancava no banheiro para se desabar em lágrimas e lavar a sua alma. Sabia que tinha problemas sérios e precisava de ajuda, mas não sabia como ajudar os outros a te ajudarem. Ela era exatamente tudo que não queria ser. Odiava tudo em si mesma. Odiava seu cabelo, seu rosto, seu corpo, sua pele, o som da sua voz. Odiava o fato de ter problemas interferindo em sua vida, e de não conseguir resolvê-los. Se sentia uma aberração perto das pessoas, e por isso se isolava a maior parte do tempo. Muitas vezes fechava os olhos com força e ficava gritando dentro da sua cabeça. Gritos silenciosos que somente ela escutava.

Ouvia as pessoas falando e cochichando sobre ela, julgando-a, com seus olhares sujos, cegos e preconceituosos. Ela os odiou. E continuou os odiando por muito tempo. Com a sua mente estrupada e rasgada, ela continuou vivendo com o seu problema. Sentada, esperando algo acontecer, esperando o tempo acabar. "Oh Deus, me mate. Só assim eu não terei de fazê-lo." E ela viveu infeliz para sempre.

6 comentários:

  1. Anônimo14:07:00

    Nossa,isso é verídico?

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  2. Anônimo02:07:00

    o poema(nesse caso um conto) é a mascara mais verdadeira que a propria face(mario quintana)

    ah e já sobre o outro post (post de despedida):
    pô mano , continua escrevendo seus textos são otimos , todo dia eu entro aque, umas duas vezes pra ver se tem novidade; abraço
    srquimera!

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  3. Anônimo15:25:00

    É uma reflexão para se ver que tudo isso não vale a pena, não vale a pena ser triste. Mas vale a pena ser feliz, é difícil, são muitas "lutas", pressões, inseguranças, mas vale a pena não desistir. Pra quando chegar na velhice, relembrar tudo de bom que viveu, e não armaguras. Quando eu lembro dos meus momentos de tristeza, sinto pena de mim mesma, por isso, aos poucos estou mudando. Eu quero ser feliz ou pelo menos ter vários momentos alegres.

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