29.5.11

Falando sobre a morte

Ninguém gosta de falar na morte. Quem gosta? "A morte é um assunto ruim e desagradável", eles dizem. É, de fato a morte é sim um assunto ruim e desagradável. Mas nós falamos em tantos assuntos ruins e desagradáveis todos os dias. Com a diferença que na morte, alguém morre.

Eu falo sobre o assunto "morte" com a mesma naturalidade que falo sobre qualquer outro assunto. A morte é só mais um assunto de muitos outros assuntos. Não me incomodo, nem tenho medo nem receio de falar sobre ela. A morte só faz o que ela tem de fazer: Matar pessoas. Matar pessoas e entristecer outras. Não há motivo porque não falar sobre ela e ponto final. Morreu o assunto.

Acontece que as pessoas tem um certo medo de falar na morte. Eu não sei se elas acreditam que, de alguma forma, quando se fala na morte você esteja atraindo-a para você ou para alguém que você goste. Eu não acredito nisso. "Medo de atrair a morte", como se elas não fossem morrer de qualquer maneira. Bem, com a morte é sempre assim "quanto mais tarde melhor". Ninguém quer morrer cedo. Mas quem disse que podemos escolher?
Considerando o suicídio podemos escolher quando morrer, mas não quando não morrer. A morte é como a visita de um parente indesejado, chega sem avisar. A morte pode chegar e levar qualquer um de nós ou qualquer um de nossos amigos e familiares a qualquer momento. Ela pode chegar ano que vem, mês que vem, semana que vem, amanhã, agora. Nunca se sabe. Ela pode levar qualquer um de nós a qualquer momento sem dar satisfações.

As pessoas se sentem tão incomodadas em falar na morte, talvez porque não haja muito o que dizer. Ou por trazer lembranças ruins. Lembranças tristes.

A morte pode nos afetar de muitas maneiras. Podemos morrer, alguma pessoa próxima de nós pode morrer ou uma pessoa muito próxima de uma pessoa próxima da gente pode morrer. Com excessão da primeira situação, podemos ser atingidos pela tristeza com todas as outras situações. E se você não for um egocêntrico sem coração, podemos nos sensibilizar até mesmo com a morte de uma pessoa não muito próxima da gente. Alguém que não conhecemos pessoalmente. Descobri isso a pouco tempo atrás.

Tinha essa garota chamada Jéssica. Ela estudava na mesma sala de aula que eu desde 2009 até 2 semanas atrás. Apesar de 2 anos estudando com ela, nunca trocamos uma palavra. Talvez um "oi" que eu não me lembre. Mas mesmo assim, nos víamos todos os dias na escola. Eu via ela chegando, via ela conversando, via ela dando risada e via ela indo embora com as suas amigas. Eu apenas via, nunca falava.

Não a conhecia bem, mas pelo o que eu via, ela era uma garota de bom coração. Não era como a maioria das pessoas da minha escola. Ela sentava no fundão junto com os bagunceiros, mas não era bagunceira. Era falante, bem comunicativa, amigável, meiga e cheia de vida.
  Na terça-feira passada, dia 24 de Maio, a minha sala finalmente ficou calada o horário de aula inteiro. Não exatamente calada, muitos choraram na verdade. Naquele dia recebemos a notícia da morte de Jéssica após uma semana em coma induzido.

Jéssica sofrera um acidente de moto, quando estava de carona com um amigo. O cara quebrou os dois braços mas sobreviveu. Ela não.

No primeiro momento me espantei com a notícia. Fiquei chocado, e então me comovi. Me comovi com a morte de uma menina que mal conhecia, mas via todos os dias. Mesmo não sendo um amigo próximo dela, me senti quase tão mal quanto os seus melhores amigos.

A sensação de tê-la visto pela última vez, sem saber que era a última vez e depois ter certeza de que nunca mais a veria de novo, é inexplicavelmente estranha. Estranha e triste. Foi tudo tão inesperado e repentino. Ninguém da minha sala nunca pensou que vivenciaria a morte daquela menina. Foi uma surpresa. Uma surpresa ruim.

Depois de alguns dias de luto, as aulas voltam na segunda-feira. Não sei como vou encontrar os alunos da minha sala e professores depois de tudo isso. Não sei como a minha sala será daqui pra frente. Só sei que a Jéssica não verei mais.

A morte me mostrou que eu me importava com pessoas que eu, até então, pensava não me importar. Me mostrou que eu, na escola, não era o egocêntrico sem coração que as pessoas pensavam, ou que até eu mesmo cheguei a pensar ser. A morte me surpreendeu novamente.

4 comentários:

  1. Anônimo10:03:00

    Hun,talvez eu seja um egocêntrico sem coração,o ano passado um meu primo morreu de dengue,minha familia queria que eu comparece ao velório,eu não queria,afinal não gostaria de aguçar minha tristeza natural,então resolvi ir,não tive escolha,todos iriam,eu precisava comparecer também,todos choraram muito,eu não derramei uma lágrima,eu realmente achava que iria me sentir comovido com tudo aquilo,mas não foi o que aconteceu,eu me sinto de certa forma frio d+ as vezes!

    Só para acrescentar...tudo que vc citou no blog acontece comigo!
    :/

    Até mais

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  2. Anônimo15:43:00

    Em menos de dois meses atrás morreu também um rapaz que estudava na minha escola.
    Eu sei como é, é estranho demais.
    É muito estranho.

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  3. Anônimo13:19:00

    pra mim a morte n é uma coisa para ser falada, apenas lembrada e ´´vivida´´ =]

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  4. Anônimo12:34:00

    Saiba que seu blog tem uma leitora que acompanha todos os seus textos.

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