12.3.14

Ainda assim elas vivem

As pessoas vivem. Elas vivem para aprender, crescer, conseguir um bom emprego, encontrar a felicidade, encontrar alguém. Seja lá qual for o motivo, elas vivem. Porque vale a pena. Porque é melhor viver.

 Apesar das dores sofrimentos, decepções e frustrações. Vale a pena viver. Apesar dos horrores, das tragédias, fatalidades e mazelas. É melhor viver.

 É melhor sempre estar correndo o risco de vivenciar algo bom no meio de tanta coisa ruim, do que simplesmente não vivenciar nada. "Viver é sofrer" já dizia alguém que não me lembro o nome. Sentimos dor pois procuramos viver. Ao longo e tortuoso caminho da vida, alguns procuram drogas, deuses, meios de aliviar a dor mesmo que por um curto período de tempo. Alguns até escolhem mergulhar no mar da ignorância e ignoram os problemas e defeitos da vida. Quando descobrimos que drogas acabam a nossa saúde, que deus não passa de um grande placebo da sociedade e que viver na ignorância custa nossa sabedoria, caímos em depressão novamente.

 Saber demais também custa caro. A ignorância é uma benção relativa. Maldição é saber demais. Quando se olha ao redor e se dispara "por ques" para todos os lados não costumamos chegar a respostas muito animadoras. Qual o sentido da vida? Existe alguém olhando por nós? Onde se encontra a felicidade? Trabalhamos para viver, ou vivemos para trabalhar? Muitas perguntas para poucas respostas.

Não acredito que haja um sentido na vida. Acredito que cabe à cada um dar seu próprio sentido a sua própria vida. Para assim evitarmos ou pelo menos reduzirmos a sensação de viver a esmo.

É duro acreditar que não há ninguém lá fora para cuidar da gente. É difícil aceitar que muito provavelmente estamos todos sozinhos. Para alguns chega ser até insuportável. Não acho que tentar arrancar a fé das pessoas a força seja a coisa certa a se fazer. Ainda mais quando essa pessoa estabelece deus como o sentido da sua vida. Tirar-lhes deus é tirar a principal pilastra de sua sustentação. Para alguém não preparado pode ser perigoso. Alguns podem viver bem sem deus, outros não. Acho que o máximo que se pode fazer é mostrar-lhes a porta, porém somente eles devem atravessá-la.

Também não acredito que uma pessoa possa SER feliz. Acredito sim que ela possa ESTAR feliz. A felicidade é momentânea. Como simples estações em uma longa linha de trem. Ela vem e vai, para depois vir e passar de novo. Portanto a sua procura é uma perda de tempo. A felicidade está aí, fragmentada e espalhada em vários pontos ao decorrer de sua vida.

Acho que infelizmente nós trabalhamos para viver e vivemos para trabalhar. Na minha cabeça o conceito de trabalho está deturpado. Sempre achei que o ser humano só trabalha para conseguir viver a sua vida. Mas hoje podemos ver que o trabalho tira em média 5 dias por semana e 12 horas por dia de tempo das nossas vidas. Deixando apenas 2 dias por semana para enfim vive-la. Trabalhamos mais do que vivemos e ao meu ver isso é triste. A vida é como ela é. E ainda assim as pessoas vivem.

Um comentário:

  1. Anônimo21:47:00

    "Acho que infelizmente nós trabalhamos para viver e vivemos para trabalhar. Na minha cabeça o conceito de trabalho está deturpado". Realmente está deturpado, Andy.

    Mas nem sempre foi assim. No início da revolução industrial ninguém queria saber de trabalhar nas indústrias (as pessoas não queiram e não precisavam se escravizar, claro). Até que tiveram a idéia de retirar as terras do povo pra que dessa forma as pessoas fossem obrigadas a irem pra as fábricas, se não quisessem morrer de fome. E para os mais rebeldes, foi criada uma lei onde a "vadiagem" passou a ser crime.

    O tempo foi passando, o povo foi achando normal trocar o campo pelas cidades. As pessoas começaram a trabalhar para a indústria e não mais para a família. E hoje é normal as pessoas até mesmo competirem por uma vaga de emprego. Temos até pessoas viciadas em trabalho. A que ponto chegamos...

    Não existe limites para a ganância daqueles que mandam no mundo. Seria de se esperar, por exemplo, que com a entrada das mulheres no mercado de trabalho houvesse um aumento na renda das famílias, mas não, o que fizeram foi reduzir o poder aquisitivo dos salários, de forma que hoje a maioria dos homens não consegue mais sustentar uma família sozinho.

    Aí surgiu um modelo mais esquisito ainda de família. Enquanto uma parte das mulheres passou a "terceirizar" a educação dos próprios filhos, outras começaram a deixá-los por conta da própria sorte. E dane-se, os que mandam no mundo não estão preocupados com isso. O absurdo ficou tão normal que ninguém mais se questiona se "deve haver algum lugar onde o mais forte não consegue escravizar quem não tem chance", como criticava Renato Russo.

    E assim, na santa ignorância as pessoas vão seguindo suas vidas. Vão sendo tocadas como um gado sem se dar conta disso.

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