O começo do fim

Vai chegar uma hora que você vai olhar pro espelho, enxergará seu rosto e perceberá que ele não é mais o mesmo. Daí você vai perceber que não é só seu rosto, é você!

Você mudou, já não é mais o mesmo. Você vai parecer cansado, abatido, esgotado. E então você encontrará o fio branco. O fio branco estará no seu cabelo, na sua sobrancelha, na sua barba. Você está ficando velho.
  É normal, eu sei. Todo mundo fica velho. Menos as pessoas que morrem antes, é claro. Pra mim ficar velho além de normal é triste. Quando se fica velho você perde muita coisa boa, e isso faz com que você ganhe muita coisa ruim. Você perde cabelo, perde audição, perde os dentes, perde metabolismo, ganha rugas, uma saúde frágil e de graça dores nas costas pelo resto de vida que ainda tem. Se você come coisas salgadas e gordurosas, ganha uma parada cardíaca. Se você come coisas doces ganha diabetes. E você perde a liberdade de comer uma saborosa pizza de calabresa sem se preocupar em ir parar no hospital logo depois.

Você perde o respeito de seus filhos e netos, perde a flexibilidade, a agilidade, a capacidade de satisfazer uma mulher e você mesmo sexualmente. Você ganha a nostalgia.

Bem vindo a nostalgia. Bem vindo a solidão. Bem vindo ao fim. Daqui você não passa, acabou pra você.

Não importa como a sua vida foi, no final o que resta é a tristeza. A tristeza é normal, assim como ficar velho, faz parte da vida. Você perde tanta coisa que não quer perder, e ganha tanta coisa que não quer ganhar. Perde a chance, ganha o arrependimento. Perde o amor, ganha compaixão. Perde isso, ganha aquilo.

Perde a vida, ganha um túmulo.