13.5.11

Hoje não tem presente

Domingo passado foi o dia das mães. Eu fiquei mal. Não por causa do dia das mães, mas por causa do presente do dia das mães. Toda data que devemos presentear as pessoas, seja o dia das mães, dos pais, natal ou até o aniversário de alguém, eu sempre fico meio mal por não saber comprar presentes. Eu nunca sei o que a pessoa vai querer, se vai gostar ou não,  se já tem o que eu vou dar e etc. Seria mais fácil se pudéssemos ler a mente das pessoas. Eu sei que dizem que a intenção é o que importa, mas a pessoa não quer intenção, quer presentes.

Não sei se sou meio complexado com essa história de presentes, talvez eu seja. Mas se eu for mesmo, acho que foi por causa de um trauma do passado.

Quando eu era criança, em mais um de muitos dia das mães, meu pai levou nossa família para o shopping. Eu, meu irmão, minha prima (que na época morava na minha casa) e minha mãe. Meu pai nos deu uma certa quantia em dinheiro e disse para nós comprarmos qualquer coisa para a minha mãe. Seria o presente de dia das mães pra ela.

No momento fiquei em dúvida. Meu pai tentou me ajudar e disse que minha mãe adoraria ganhar um brinco, uma pulseira ou alguma coisa do tipo. Não sei porque diabos pensei que um brinco não seria um presente bom pra ela. Daí achei que ela preferiria um livro. Lembrei do nome da autora que ela disse que gostava e não hesitei em comprar um livro da Clarice Lispector. Satisfeito, e com a maior certeza de que ela ia gostar do presente que eu comprei com tanto gosto, voltamos para o carro.

Dentro do carro meu irmão e minha prima entregaram seus respectivos presentes para minha mãe, lembro-me da expressão em seu rosto, ela estava adorando. Até que chegou a minha vez. Entreguei alegremente o presente nas mãos da minha mãe, ela rasgou o papel de presente, olhou para o livro, olhou para mim, sua expressão facial mudou. Meu castelo de alegria desmoronou quando ela disse que já tinha aquele livro e preferia um brinco. Ela tentou dizer tudo isso forçando um sorriso para amenizar as coisas, afinal eu era apenas uma criança. É eu sei, ela podia ter mentido. É o que todo mundo faz quando não gosta de um presente que recebeu. Mas acontece que ela é muito sincera às vezes, e pra falar a verdade eu prefiro assim.

Naquele dia só me restou admirar a cidade pela janela do carro do meu pai enquanto voltávamos pra casa. Tentando conter aquela leve vontade de chorar, eu sabia que não teria mas a facilidade que tinha para comprar presentes para as pessoas.

Hoje, ao invés de presentear as pessoas, eu prefiro dar dinheiro à elas. Assim elas podem escolher o que querem e comprar. Também prefiro receber dinheiro do que presentes. Acho melhor.

Domingo passado, no dia das mães, preferi não arriscar e dei pra ela 30 reais. Era tudo o que eu tinha. Ela gostou. Eu nem tanto. Queria dar pra ela algo mais. Mas não sei o que. Mas tudo bem, domingo passado não foi o dia das mães, foi o dia do comércio. Dia das mães é todo dia.


Falando em presentes, queria agradecer mais uma vez aos meus primos que me deram uma camiseta do Nirvana no meu aniversário de 18 anos em janeiro. Ir até o centro da cidade no final do dia, enfrentar trânsito e ônibus cheio e ainda acertar no presente não é pra qualquer um. Muito obrigado.

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