1.2.13

(dor) Crônica

Você acorda ao anoitecer. Seus músculos ainda anestesiados pelo sono. A visão embaçada. Você se pergunta que dia é hoje. Como se o sono tivesse apagado a sua memória, você não se lembra em que momento adormeceu. Não se lembra quanto tempo esteve apagado. E então se pergunta se devia estar fazendo alguma coisa que não está fazendo. Mas apesar de tudo, você se sente bem. Um sentimento de paz e tranquilidade. Um sentimento que você tem a impressão de não sentir há tempos. Um sentimento que você sente falta de sentir. Uma pausa para o descanso. Recuperar o fôlego no mergulho profundo. Numa vida dolorida, o sono é a sua cura.
Você se levanta e pisa descalço no chão. O choque da pele quente com o chão gelado desperta o que ainda estava adormecido em você. Vai ao banheiro se escondendo do espelho, pois o homem do espelho te entristece. A visão ainda turva te faz errar o alvo do vaso sanitário. Suas costas doem. Seus ossos castigam seu corpo longo e esquelético. A dor te traz de volta para o mundo real. Como um interruptor de luz, a dor desliga aquela paz pós-onírica. O sabor amargo da saliva seca em sua boca. O odor azedo da urina respingada no azulejo frio do banheiro. O homem do espelho te olha nos olhos. A dor aguda e perfurante te força a inclinar-se para trás e olhar para o teto. E como uma pancada na cabeça a sua memória volta, e te lembra que daqui a algumas horas você tem que estar naquele escritório novamente.
 Você volta a se deitar, fecha os olhos e torce para o sono apagar sua memória mais uma vez.

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