20.1.14

Um passo de cada vez

Lembro-me de ter dito a minha mãe que eu odiava a escola e que eu queria que acabasse logo. Eu estava na quinta série, devia ter uns 11 anos. Ela riu, olhou pra mim e disse: "Falta muito pra acabar, ainda tem muita escola pela frente". Lá eu me sentia em um presídio. Portões de ferro, grades, muros altos, opressão. Éramos presidiários em regime semiaberto. Dormíamos em casa para no dia seguinte voltarmos à prisão. Já chegava querendo ir embora. Entrava ansioso para o intervalo, no intervalo ficava ansioso para voltar pra sala, na sala ficava ansioso para ir pra casa. Estar na escola era uma constante e cruel espera. Mas eu ia todos os dias. Era melhor me submeter a esse sacrifício agora para não ter problemas no futuro.

 Por toda vida escolar eu esperei pelo fim. Pensava que ao encerrar meus estudos seria um ser humano mais feliz. O meu último dia de aula seria o melhor dia da minha vida. Chegaria em casa, chutaria a mochila pra longe, queimaria os cadernos e as apostilas, botaria We Are the Champions do Queen pra tocar e me explodiria de alegria. Depois de mais de 10 anos eu estaria livre. Seria um sonho. Pobre e ingênuo garoto.

No meu último dia de aula minhas expectativas não estavam tão altas. Não estava tão ansioso quanto imaginei que estaria. Cheguei em casa contente, não feliz. Chutei a mochila, acabei não queimando nada, botei Queen pra tocar. Pela primeira vez em mais de 10 anos me vi livre da escola. Mas a felicidade que eu tanto esperei não veio. Pois estava preocupado. Na minha cabeça só um pensamento vagava: " A escola acabou, o que vou fazer agora?"

 Naquele momento percebi que por mais insuportável que a escola poderia ser, ela ainda ajudava a ocupar a minha cabeça. Me senti perdido, não sabia o que fazer a seguir. Precisava de um próximo passo. Foi aí que eu fui trabalhar em uma farmácia. Foram 2 meses e 3 dias de distração. Quando fui demitido voltei ao tédio caseiro. Fiquei 5 meses em casa parado. Querendo arranjar um emprego e ao mesmo tempo não querendo. Ainda odiava a escola com todas as minhas forças, mas tive que admitir que em um aspecto ela fez falta. Na escola, pelo menos, tinha a possibilidade de interagir com outras pessoas, mesmo a maioria sendo um bando de idiotas tinha um ou dois ali que eu gostaria de ter conhecido melhor.

Após esses 5 meses parado consegui um emprego de porteiro noturno. Ontem fez 1 ano e 5 meses que estou nessa. Foi bom enquanto durou, na matéria de ocupar a mente serviu bem como substituta da escola. Em fevereiro começo um curso que vai durar 1 ano e 2 meses. De abril para maio vou me demitir. Trabalhar a noite te estraga. Vou me dar umas férias. Tenho até uma pequena reserva de dinheiro para sobreviver a todo esse tempo parado. Daqui a 3 ou 4 meses voltarei a enfrentar o tédio. Como vou ocupar a minha cabeça agora? O curso não será o suficiente.

Pretendo sair mais nessas "férias". Livrarias, cinemas, caminhadas ao esmo, um banco no parque Ibirapuera para sentar e ver o tempo passar. Esse será o meu próximo passo. Um passo de cada vez.

2 comentários:

  1. Anônimo00:26:00

    Pela primeira vez percebi que você está motivado para alguma coisa, que bom.

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  2. Que bom Andy que você vai fazer um curso!
    Não sabia que você ficou tanto tempo assim no emprego de porteiro....
    Tu sabe que eu muitas vezes preferia "trabalhar" a noite do que de dia? É que num hospital à noite é mais silencioso. Tem menos gente, aparecem coisas mais interessantes e.. sei lá, é algo diferente. Mas esgota, ainda mais quando você tem que emendar aula no dia seguinte e lá se vai 24-28-30 horas.... Claro que muitas vezes tu dorme um pouco. Bom, o meu curso aqui é um cu porque NUNCA nos dá direito a pós-plantão enquanto em outros lugares sim. Na verdade, tudo é um cu aqui nessa minha universidade. A cidade também é um cu!! (desculpa o horror de palavrões, mas DETESTO como as coisas funcionam por aqui... graças que! estou indo embora.. hehehe ;)

    Essa sensação não é só depois da escola. Depois de se formar isso fica, paira no ar.... porque hoje em dia você precisa de muito para conseguir pouco mesmo que você seja formado em nível superior... e só os espertinhos da vida conseguem fazendo pouco alcançarem o muito que os justos e os honestos vão lutar por toda a vida para talvez nunca ter....

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