14.4.16

Stanley

Stanley parou para dar um gole no café. Viu Martin atirar uma bolinha de papel na cabeça do colega à frente. Depois viu o mesmo rir como uma criança de seis anos. Por uma fração de segundo, se sentiu no ensino fundamental de novo. Estalou os dedos doloridos e voltou à digitação frenética. Já era cinco e meia da tarde e nem a metade dos relatórios estavam prontos para a entrega. Stanley suspirou pesado e voltou ao trabalho. Digitar, salvar, imprimir. Digitar, salvar, imprimir. Digitar, salvar, impri... "Hahaha", um burburinho seguido de escandalosas gargalhadas cortou o fio de sua concentração. "Tá sujo de café", disse Lui ao passar. Stanley olhou para a solitária mancha escura no meio do branco de sua camisa e se perguntou como isso aconteceu. Não como a mancha aconteceu, mas como tudo aquilo aconteceu. Usar social, gravata e digitar em um computador o dia inteiro nunca fizeram parte de seus planos. Das pessoas ao seu redor, sim. Todos pareciam ter planejado cada pedaço daquilo para suas vidas tristes. Stanley voltou a lembrar da escola. Do tempo de criança, quando não haviam relatórios para entregar ou camisas manchadas de café para lavar. Quando não existiam problemas, responsabilidades. Ninguém quer responsabilidades, no máximo precisa-se delas. Stanley lembrou como desejava ser adulto quando criança. Só para poder fazer tudo que um adulto podia e uma criança não. Beber cerveja, ficar acordado até tarde, ver revista de mulher pelada sem a censura dos pais. Acontece que quando criança, você acha que a melhor coisa é ser adulto. Mas as desvantagens inundam as vantagens. Quando criança pensa-se não estar feliz o suficiente, mas você está, sim. Stanley se sentiu como uma negra mancha de café isolada na imensidão branca daquele lugar. Uma bolinha de papel cortou o fio de sua concentração. Era Martin outra vez. Agora, usando Stanley como alvo. Assim Stanley se sentou, suspirou pesadamente, estalou os dedos doloridos e voltou a digitar. Faltavam dez minutos para as seis. Stanley tinha que terminar os relatórios.


Texto originalmente publicado no blog Raio X Mental.

Nenhum comentário:

Postar um comentário